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Doreni Caramori Júnior

TENDÊNCIAS/DEBATES

Crítica à meia-entrada

Trata-se de uma política pública feita com recursos privados que tem como efeito aumentar o preço das entradas e prejudicar o setor de produção de eventos

O benefício da meia-entrada, que concede desconto de 50% para estudantes em eventos esportivos e culturais, está tornando inviável uma atividade que movimenta ao menos R$ 2 bilhões por ano, gera milhares de empregos e contribui para o desenvolvimento econômico e cultural do Brasil: a produção de eventos e de entretenimento.

Diante da falta de fiscalização na emissão das carteirinhas de estudante, elas se proliferam indiscriminadamente, nem sempre beneficiando aqueles que supostamente necessitam do benefício. Fazem com que alguns eventos cheguem a ter mais de 90% da carga de ingressos adquirida por metade do preço.

Os impactos mais visíveis desta política pública -viabilizada por recursos privados-, são o aumento no preço das entradas e a consequente queda de arrecadação nas bilheterias, causando o cancelamento de shows, como ocorreu recentemente com a cantora britânica Joss Stone.

O projeto de lei que tramita em regime de urgência na Câmara dos deputados, já aprovado pelo Senado, tenta minimizar esta situação insólita ao fixar em 40% a proporção de ingressos destinados aos beneficiados pela meia-entrada -a proposta original do projeto era 30%. Não se pretende discutir aqui se a porcentagem é a ideal. Mas é fato que a iniciativa é pertinente.

Numa época na qual se fala tanto em planejamento, a falta de teto para a venda de ingressos de meia-entrada impede que os produtores de shows internacionais, por exemplo, façam um cálculo razoável de quanto devem custar os ingressos para que estes eventos gerem arrecadação suficiente para garantir o cachê do artista, o pagamento de funcionários e, de preferência, lucro.

Na impossibilidade de fazer essa conta elementar para qualquer modalidade de negócio, a solução que resta ao setor é aumentar o preço dos ingressos, tornando ilusório o suposto benefício da meia-entrada.

É preciso lembrar que, até o início da década de 1980, os poucos artistas estrangeiros que se aventuravam a se apresentar no Brasil voltavam reclamando de falta de pagamento e de equipamentos danificados ou roubados.

Não foi por incentivos governamentais que o país se tornou um dos destinos preferidos de atrações internacionais nos últimos anos. Foi pelo trabalho de empresários, que suaram para trazer credibilidade ao mercado nacional de eventos, transformando o Brasil numa vitrine rentável e segura para artistas do porte de Paul McCartney, U2 e diversos outros de menor fama, mas de relevância cultural inegável, como Iggy Pop e Bob Dylan.

De acordo com levantamento feito por esta própria Folha, o número de shows internacionais triplicou em 2012 em relação a 2010.

Da maneira é hoje, a meia-entrada é uma intervenção estatal numa atividade privada, inadmissível numa economia de livre mercado.

Por um lado, o Estado faz com que os demais frequentadores de shows e outros eventos paguem pelo beneficio dos possuidores das carteirinhas. Por outro, os empresários brasileiros, acusados por alguns de privatizar o lucro e estatizar os prejuízos, acabam financiando a política pública da meia-entrada. E sem nenhuma contrapartida do Estado a quem concede o benefício.


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