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Pax paulista
Medidas anunciadas em conjunto por Alckmin (PSDB) e Haddad (PT) beneficiam população de São Paulo, mas miram as eleições de 2014
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), anunciaram uma série de parcerias entre as duas administrações, no que parece ser um passo rumo a uma coexistência pragmática.
O pacote envolve a construção de moradias sociais, creches, corredor de ônibus e piscinão, além de outras ações conjuntas nas áreas de segurança pública, iluminação e combate a enchentes.
Circunscrita ao plano das políticas públicas, a aproximação é decerto elogiável, especialmente por São Paulo ser palco de uma disputa histórica e acirrada entre as legendas do governador e do prefeito.
Mas o encontro também ajuda a compor o figurino eleitoral de ambos para 2014.
Ninguém desconhece o significado que uma inédita conquista do Bandeirantes teria para o ex-presidente Lula e seu partido -e o êxito de Haddad na prefeitura é estratégico tendo em vista esse objetivo.
Garimpar recursos estaduais, assim, é um movimento crucial para o sucesso de uma cidade endividada e com restrições orçamentárias para fazer novos investimentos.
Alckmin, por sua vez, reedita a bem-vista parceria com a presidente Dilma Rousseff e cria uma agenda positiva para seu governo. Obviamente não interessa ao tucano ser visto como um político que, em nome de interesses partidários ou ambições pessoais, boicota a prefeitura da capital.
Não é demais lembrar que, na campanha eleitoral do ano passado, petistas e tucanos se viram ameaçados por um discurso que apregoava o fim da hostilidade entre os partidos -Celso Russomanno (PRB) e Gabriel Chalita (PMDB) apostaram nessa via e alcançaram considerável sucesso nas urnas.
Se Alckmin e Haddad colaboram um com o outro, a tendência é que também evitem desgastes desnecessários em contendas vindouras -pelo menos no horizonte próximo. Já no encontro de anteontem, ambos tomaram o cuidado de silenciar sobre assuntos que opõem as duas administrações.
Silenciaram, por exemplo, quanto à revisão da inspeção veicular -bandeira de Haddad- e à internação compulsória de dependentes químicos -implantada por Alckmin na cracolândia, na região central da cidade.
Não que esses temas sejam de menor importância. Ao contrário, sensibilizam boa parte da população. Para Alckmin e Haddad, porém, não são convenientes.
Nenhum acordo, por certo, eliminará a rivalidade e evitará o confronto acerbo entre petistas e tucanos nas próximas eleições. Mas, ainda que impelida pelo calendário político, a parceria resulta proveitosa para a cidade.