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Do Egito à Tunísia
Um dos maiores críticos dos islamitas que dominam o cenário político na Tunísia desde a revolução de 2011 foi morto a tiros horas depois de receber, por telefone, a última de uma série de ameaças.
O esquerdista Chokri Belaid combatia forças conservadoras que via como ameaça à natureza laica do Estado tunisiano. Seu assassinato acirra as tensões no ambiente tenebroso que envolve o pequeno país de onde partiu a onda de revoltas contra ditadores conhecida como Primavera Árabe.
A morte de Chokri é atribuída pela classe média urbana e instruída a extremistas na órbita do partido religioso Al Nahda, que saiu da clandestinidade sob o antigo regime para tornar-se a principal força política. Com respaldo de setores rurais e tradicionais, a sigla venceu as eleições de outubro para formar a Assembleia Constituinte encarregada de governar o país até a definição do novo marco legal.
Embora pregue uma liderança islâmica moderna inspirada no modelo turco, o Al Nahda nunca conseguiu dissipar temores de que persiga o objetivo oculto de instaurar um regime religioso. Em agosto ocorreram manifestações de revolta contra um artigo constitucional em redação segundo o qual a mulher seria considerada "complementar" ao homem, e não igual.
Nos últimos meses, jornais e TVs foram perseguidos por conteúdo supostamente imoral. Galerias de arte sofreram ataques anônimos. Uma tunisiana foi estuprada por policiais e processada por "atentado ao pudor" após ser encontrada num carro com o namorado.
Financiado por ultraconservadoras petromonarquias do golfo Pérsico, o Al Nahda também é acusado de conivência com facções salafistas, que defendem um retorno à mítica pureza islâmica dos tempos de Maomé.
Sob pressão de sua ala mais intolerante, o partido reagiu até agora sem vigor às críticas de setores mais secularistas. Sua popularidade cai. As lutas internas ficaram claras após o partido rejeitar a decisão do premiê Hamadi Jabali de dissolver o gabinete em resposta à fúria pelo assassinato de Chokri.
Ao mal-estar político-religioso soma-se a incapacidade do governo de reverter um quadro econômico calamitoso, agravado pela debandada dos turistas ocidentais -como ocorre no Egito.
A legitimidade dos islamitas tunisianos e a sua permanência no círculo do poder dependem agora da disposição para encontrar e punir os culpados pela morte do oposicionista Chokri Belaid.