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Hugo Chávez

Morte do presidente da Venezuela põe em xeque a política populista financiada pelo petróleo que o projetou como herói de esquerdistas

A morte de Hugo Chávez, depois de eleito para mais um mandato como presidente da Venezuela, tem tudo para fortalecer o mito a que sua pessoa vinha associada havia mais de uma década.

Iniciando a carreira política do pior modo -com uma tentativa de golpe militar contra o governo eleito de Carlos Andrés Pérez, em 1992-, tornou-se, sete anos depois, presidente pelo voto popular.

Os limites constitucionais nunca pareceram suficientes a Hugo Chávez. Com o tempo, impôs seu domínio sobre o Poder Judiciário, sufocou empresas de comunicação e assegurou sucessivas reeleições.

O perfil autoritário de Chávez se fez marcar pelo incansável senso da provocação publicitária, com seguidas manifestações de hostilidade aos EUA, aos investidores externos e ao neoliberalismo. Ocupava horas e horas da programação de TV com pronunciamentos, piadas, reminiscências e canções.

Seria o clássico ditador latino-americano, a um passo do folclore e da monstruosidade, não fossem algumas circunstâncias. Apesar da evidente manipulação que Chávez impunha a todo o processo e do constante recurso a deliberações plebiscitárias, eleições periódicas realizaram-se na Venezuela.

O papel bisonho desempenhado pela oposição -seja boicotando a disputa eleitoral, seja embarcando numa aventura golpista em 2002- em nada contribuiu para que recaíssem apenas sobre o caudilho as responsabilidades pelo anômalo retrocesso político do país.

Numa economia dependente quase exclusivamente do petróleo (95% de suas exportações), a alta dos preços do produto permite, a um só tempo, a prodigalização de benesses e sua concentração numa elite. A situação, que por um tempo foi semelhante à de outros países latino-americanos, é propícia a surtos de populismo distributivista, que se alternam com o domínio oligárquico.

Enquanto o Brasil parece ter atingido níveis bem maiores de diversificação econômica e social, a dependência da Venezuela diante dessa única fonte de renda fez da emergência de Chávez muito mais um fenômeno retardatário do populismo latino-americano do que o exemplo do "socialismo do século 21" que ele tanto alardeava.

Durante seu governo, a estatal petrolífera PDVSA destinou US$ 123,7 bilhões para programas sociais. Só em 2011 foram US$ 39,6 bilhões, mais que o desembolsado naquele ano pelo programa Bolsa Família, do Brasil, cuja população é quase seis vezes maior.

Essa gigantesca transferência de recursos teve um impacto negativo sobre a empresa. Levou a uma diminuição da produção de petróleo de 3,2 milhões de barris/dia em 2005 para 2,7 milhões em 2011. Mas também foi decisiva para reduzir a proporção de miseráveis na população de 20,3% em 1998 para 7% em 2011.

Chávez se soma agora a Vargas, Perón e outros líderes autoritários do passado. Tendo chegado tarde a um mundo globalizado, seu papel para os críticos do sistema financeiro internacional projetou-se para além da tacanha realidade latino-americana -a qual, infelizmente, simbolizou com tanta ênfase quanto os mais atrasados oligarcas a que se opôs.


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