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Cotas da discórdia
Como era previsível, são acalorados os debates acerca da adoção de uma política de cotas pela USP.
O modelo foi proposto pelas reitorias das três universidades estaduais de São Paulo (USP, Unicamp e Unesp) e tem o aval do governo do Estado, mas precisa ser aprovado até junho pelos respectivos conselhos universitários para ser posto em prática já a partir de 2014.
Tendo em vista as críticas que o projeto passou a sofrer, não é improvável que o debate se prolongue para além do prazo estipulado.
A proposta paulista de cotas tem, sobre a versão federal, a vantagem de não se limitar à simples reserva de vagas. Preocupa-se, também, em assegurar o preparo do aluno para acompanhar os cursos.
Até 2016, 20% das vagas seriam preenchidas por egressos de escolas públicas, que passariam antes por uma espécie de "college", um curso intermediário semipresencial de dois anos (ainda a ser criado). Outros 30% entrariam pelo vestibular, mas com bonificação para alunos da rede oficial; e 50% seguiriam o método clássico.
Lamentavelmente, no caso dos postos destinados a jovens vindos do ensino público, incluiu-se uma subcota racial de 35% (discriminação desnecessária, ainda que positiva, pois o critério social já permite a inclusão de não brancos).
Capacitar alunos desfavorecidos é importante, mas o modelo paulista termina por discriminar o jovem mais pobre. Afinal, determina que apenas ele passe pelo curso intermediário. Além disso, a reciclagem seria semipresencial -o estudante iria pouco ao campus, o que nada contribui para a inclusão.
Há críticas pertinentes, mas a janela é curta. Já tramitam na Assembleia Legislativa projetos de lei determinando que as universidades estaduais paulistas reservem 50% das vagas para cotistas, como nas congêneres federais.
Se as academias não alcançarem uma solução de consenso, são grandes as chances de que a controvérsia se encerre por força dos legisladores -a despeito do que pense a comunidade universitária.