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Foco
Com ônibus superlotados, mototáxi cobra R$ 35 por corrida de 8 quilômetros
Reportagem percorreu trajeto entre as estações Jabaquara e Ana Rosa; com trânsito livre, táxi faz o mesmo trajeto por R$ 25
"Faz por R$ 20?", pergunta a reportagem. "Não. R$ 35, porque tem R$ 5 do gás", responde o homem que oferecia serviço de mototáxi, proibido em São Paulo, na estação Jabaquara, fechada pelo segundo dia por causa da greve dos metroviários.
Na manhã desta sexta (6), o repórter da Folha subiu na garupa de uma moto com destino à estação Ana Rosa, a última da linha 1-azul a funcionar na zona sul, a 8 km dali.
Com a paralisação no metrô, mototaxistas e motoristas de vans clandestinas se aproveitaram da falta de opção dos passageiros, que se depararam com as portas de estações fechadas e as longas filas para pegar ônibus lotados.
Para fazer o trajeto entre as estações Jabaquara e Ana Rosa, por exemplo, lotações cobravam R$ 10 por pessoa --a passagem de ônibus, metrô ou trem custa R$ 3.
De táxi comum, o mesmo trajeto, custa cerca de R$ 25 com o trânsito livre.
Quem optou pelo transporte clandestino também teve de esperar. "O motoqueiro já está vindo. Foi levar um rapaz na Barra Funda", afirmou à reportagem um dos homens que ofereciam corridas de mototáxi. "Mas tem capa de chuva e tudo, parça' [parceiro]" --o acessório era comprado de ambulantes por R$ 5.
Após uma hora e meia de espera, o motoqueiro estacionou sua Honda CG na vaga de uma agência bancária.
Já no início do trajeto, na chuva, o mototaxista tenta passar entre um carro e um ônibus, mas o braço dele esbarra no coletivo. "Põe o corpo mais para a frente, que eu ganho apoio", pede ele.
Na avenida Engenheiro Armando Arruda Pereira, surge pela primeira vez o mar de veículos --eram mais de 200 km de vias congestionadas na cidade naquele horário, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
O emaranhado de retrovisores dá a impressão de que o joelho ficará pelo caminho. "Trava mais as pernas", recomenda o motoqueiro.
Se algum veículo desalinhado impede a passagem pelo caminho geralmente usado pelas motos, entre as filas de carros, a solução era passar na frente deles para alcançar a faixa do lado.
Após um trajeto que incluiu invasões à faixa de ônibus e à "fronteira" com a contramão, a viagem, de 30 minutos, termina --de metrô, duraria menos da metade.
"Seja breve", brinca o motoqueiro ao ler a placa de proibido parar --e verificar que o repórter não estava conseguindo tirar o capacete.