Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Poder

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Eleições 2014

De Brasília para o agreste

Deputado há 44 anos, o presidente da Câmara e candidato ao governo do Rio Grande do Norte, Henrique Alves, é mais conhecido pelo número do partido do que pelo nome no interior

DANIEL CARVALHO ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DO RN

Os moradores de Várzea já esperavam havia cerca de duas horas quando uma Land Rover branca parou na rua Antônio Rosa, na entrada da cidadezinha no agreste do Rio Grande do Norte.

Era noite da última quinta-feira (11). De camisa verde de botão, mangas curtas para fora da calça jeans e cabelo penteado para trás, desceu do carro o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

"É o 15!", gritou uma mulher do grupo mobilizado pela militância para receber o político carioca, deputado há 44 anos pelo Rio Grande do Norte e agora candidato a governador do Estado.

No município de 5.000 habitantes, o homem que comanda 512 deputados em Brasília é mais conhecido pelo número de seu partido.

Essa ligação com o número, e não especificamente com o candidato, é resultado do processo histórico que dividiu o eleitorado do Estado entre bacuraus (eleitores da família Alves) e araras (eleitores da família Maia).

O grupo que recepciona o deputado logo que ele sai do carro não chega a 20 pessoas.

A maioria dos eleitores ainda rodeia a ex-governadora Wilma de Faria (PSB), que disputa o Senado na chapa de Alves, simbolizando a união de bacuraus --ave de hábitos noturnos-- e araras.

"Sou fã de Wilma. O que ela fez foi melhor do que qualquer outro. Voto nele [Alves] porque ela está pedindo", disse a estudante Maria José Nascimento, 29.

Acompanhada das filhas de 10 e 12 anos, ela queria ver de perto sua "ídola" e o candidato que ainda não conhecia bem. "Ele fica mais em Brasília do que aqui", disse.

'HENRIQUEMÓVEL'

Alves caminha menos de 15 metros entre a população. Recebe abraços e tira fotos. Mesmo tímido, ele retribui. Sorri discretamente e faz um sinal de "legal" com uma das mãos, símbolo da campanha.

Após a curta caminhada, sobe em uma caminhonete cuja parte traseira foi adaptada com escada, barras de ferro para apoio e um toldo branco com lâmpadas fluorescentes. O veículo faz lembrar o papamóvel, usado pelo líder da Igreja Católica para desfilar entre os fiéis.

Mas no agreste trata-se do "Henriquemóvel", como anuncia o locutor. Ele percorre ruas com esgoto correndo em valas durante 15 minutos.

O veículo é cercado por homens vestidos de verde, a cor dos bacuraus. Um segurança a paisana não desgruda dele.

O cortejo-relâmpago é acompanhado por cerca de 40 veículos. Dois deles carregam caixas de som gigantes.

Nos primeiros minutos, em vez de acenar e sorrir como de costume, Alves passou mais tempo cochichando com aliados, bebendo água ou contemplando o ato com as mãos cruzadas sobre a barra de proteção do automóvel.

Nas outras cidades visitadas naquela noite, o presidente da Câmara soltou-se mais, com sorrisos e acenos.

Dois dos três discursos acompanhados pela Folha foram feitos em cima da caçamba do "Henriquemóvel". Apenas o último ato, em Goianinha, aconteceu sobre um grande palco armado na praça com balões verdes que formavam o emblemático "15".

Rouco, ele repetiu em todas as cidades que quer ser o "governador da segurança pública" no Estado que, segundo ele, tornou-se o "paraíso da bandidagem".

Segundo pesquisa Ibope d final de agosto, Alves tem 40% das intenções de voto, contra 28% de seu principal rival, o atual vice-governador Robinson Faria (PSD).

Sem mencionar a citação de seu nome como suposto recebedor de propina em contratos da Petrobras --feita no depoimento de delação premiada do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa--, Alves rebateu de maneira genérica críticas feitas por rivais.

"Aprendi que a mentira não vence, a agressão não se respeita e a baixaria a gente deixa de lado", disse em Várzea. "Aprendi nesses 44 anos [que] só fala mal dos outros quem não tem coisas boas para falar de si mesmo", disse.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página