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Clientes contrariam versão dada por Marina
Entidades revelam quanto pagaram por palestras da candidata do PSB
Presidenciável havia dito que cláusula de confidencialidade a impedia de dar essas informações
A cláusula de confidencialidade usada como justificativa pela candidata Marina Silva (PSB) para manter sob sigilo os clientes e valores individualizados de suas palestras não se aplica a todos os seus contratos.
Ao contrário do que Marina tem dito publicamente, quatro entidades disseram à Folha que não assinaram nenhum acordo para tratar como sigiloso o valor pago a ela.
Apesar de a ex-ministra ter revelado à Folha que obteve renda bruta de R$ 1,6 milhão com 72 palestras proferidas entre março de 2011 e maio de 2014, Marina ainda mantém em segredo quem lhe contratou e quanto cada um pagou, alegando que a confidencialidade é imposta por seus contratantes.
Procurada, a assessoria da campanha agora afirma que houve contratos sem cláusula de confidencialidade e sustenta que, posteriormente, a empresa de Marina passou a oferecer essa opção por exigência dos clientes.
"É compromisso público da empresa de Marina Silva divulgar o mais breve possível a lista de todos os contratantes dos serviços prestados que não se opuserem à divulgação dos dados dos contratos. Para isso, todos os contratantes estão sendo procurados para autorizar formalmente a quebra da cláusula de confidencialidade", informou a assessoria.
As palestras, que são sua única fonte de renda desde que deixou o Senado, garantiram-lhe ganho líquido de R$ 1 milhão em três anos.
Durante debate promovido por Folha, UOL, SBT e Jovem Pan no início deste mês, a candidata do PSB explicou que a confidencialidade "é muito mais uma exigência das pessoas que contratam" o trabalho dela do que uma demanda pessoal.
Ela garantiu ainda não ter "nenhum problema em que sejam reveladas as empresas" que lhe contrataram.
A reportagem procurou 32 entidades para as quais Marina deu palestras desde 2011, após ter deixado o Senado.
Das 17 que responderam aos questionamentos da reportagem, quatro revelaram não ter existido nenhum acordo de confidencialidade. Destas, apenas a Fundação Dom Cabral se recusou a revelar o valor das duas apresentações, uma em 2011, em Belo Horizonte, e outra em 2012, em São Paulo.
"Não houve contrato de confidencialidade. Contudo, é praxe da fundação não informar o valor pago a quaisquer de seus palestrantes, por uma conduta da escola", disse a assessoria da entidade.
Mas outras três abriram os dados: a Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais pagou R$ 31 mil, a Associação Brasileira dos Profissionais de Recursos Humanos do Rio repassou R$ 5.000, e o Conselho Federal de Contabilidade, R$ 33 mil.
Nenhuma delas firmou qualquer tipo de acordo de confidencialidade.
"Não constou essa exigência no contrato", informou, por exemplo, a Associação Comercial de Minas. Segundo a entidade, Marina teve outras exigências: seguranças, transporte terrestre com motorista e ar-condicionado e dieta especial, por causa de suas restrições alimentares.
Outras cinco instituições confirmaram o acordo para manter sob sigilo o valor pago, admitindo não ter sido exigência de Marina, mas procedimento interno padrão, e oito entidades disseram que Marina não cobrou pela apresentação. As demais não responderam aos questionamentos ou se recusaram a dar informações.