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Livro reúne dados de mortos e ajuda famílias nas buscas
GABRIELA YAMADA DE RIBEIRÃO PRETOUma iniciativa da técnica responsável pelo laboratório de antropologia forense do Cemel (Centro de Medicina Legal), da USP de Ribeirão Preto, ameniza a dor de familiares que buscam por parentes desaparecidos.
Há 13 anos, a bióloga Teresa Cristina Pantozzi Silveira reúne no "Livro de Registros de Desconhecidos e Indigentes" informações detalhadas sobre os mortos, com fotos.
Entre eles, os que foram enterrados como desaparecidos ou indigentes, para que possam ser reconhecidos.
O banco de dados manual começou em 1999 com a docente da USP Carmen Cinira Martin, idealizadora do Cemel. Teresa assumiu a tarefa, que não faz parte de suas atribuições, dois anos depois.
Ela fotografa o rosto dos mortos e detalhes do corpo para ajudar na identificação, como tatuagens, machucados e manchas. Para cada ficha, especifica causa da morte e datas de entrada do corpo no Cemel e do enterro.
Teresa também registra o cemitério em que o corpo foi enterrado e o jazigo, além de anexar documentos pessoais --quando há--, atestado de óbito e boletins policiais.
Os corpos ficam no Cemel de 12 a 15 dias, até que sejam retirados pela família. Depois, são enterrados como desconhecidos os que não foram identificados com documento. "Há muitos casos de familiares que reconhecem o corpo, mas não voltam para buscar", afirmou Teresa.
Estes são enterrados como indigentes, segundo Marco Aurélio Guimarães, um dos coordenadores. Segundo ele, são considerados indigentes os que o SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) identificou por meio de documentos.
Guimarães disse que o laboratório não tem estrutura para assumir o compromisso de procurar os familiares --nem é obrigado. Teresa disse fazer o que pode: procura Cetrem (central que recebe migrantes) e Creas-Pop (assistência social) e envia fotos dos desconhecidos.
Foi dessa forma que Paulo Sérgio Calbelo, morto depois de uma agressão em 2011, teve a identidade confirmada.
O livro conta com o registro de 244 mortos e pode ser acessado por qualquer pessoa que procure um familiar.
REFERÊNCIA
A falta de cruzamentos de dados sobre pessoas desaparecidas e mortas no país fez com que o trabalho voluntário se tornasse referência para a Polícia Civil de Ribeirão.
"Não compreendo como o país conseguiu criar um cadastro nacional de veículos roubados, mas não consegue efetivar a busca no cadastro nacional de pessoas desaparecidas", disse Guimarães.
Se depender de Teresa, o laboratório poderá fazer o cruzamento. Ela decidiu reunir dados de desaparecidos com fotos cedidas por familiares e características pessoais. As informações, no entanto, ainda estão em papel.
A Coderp (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto) se interessou em digitalizar os documentos e discute com o Cemel a forma como poderá ser feita. Não há prazo.