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Mestre do horror

Roteirista de 25 filmes de cinema e único vencedor do Kikito na região, Rubens Lucchetti completa 70 anos de carreira, iniciada com texto enviado à rádio Tupi

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE RIBEIRÃO PRETO

Ele se diz uma pessoa de poucos amigos e confessa que não foi bom aluno. Apesar disso, contabiliza ter publicado 1.547 livros sobre os mais variados assuntos -de horóscopo astral até esoterismo-, 25 roteiros de cinema, 30 seriados de rádio e mais de 300 roteiros para HQ (história em quadrinhos).

E completa agora 70 anos de carreira, iniciada em 31 de outubro de 1942, quando a rádio Tupi recebeu seu texto "A Única Testemunha".

Aos 82 anos, Rubens Francisco Lucchetti abriu as portas de sua casa antiga, na pacata Jardinópolis para contar sua trajetória à Folha.

Ele é conhecido por ter sido o roteirista de filmes de José Mojica Marins, como "O Estranho Mundo de Zé do Caixão" e "O Segredo da Múmia", pelo qual ganhou um Kikito -prêmio máximo nacional concedido no Festival de Cinema de Gramado. "Fui o único da região [a receber a estatueta]", disse.

Os quase 1.600 títulos escritos por ele, explica Lucchetti, foram livros encomendados e todos publicados com pseudônimos. Obras com seu nome mesmo são "apenas" 40, e o roteirista está prestes a lançar mais uma: "Fantasmagorias", uma seleção de contos de terror que deve ser publicada em 2013.

Apesar do foco nas letras, Lucchetti também se aventura nas artes plásticas. Na casa dele, visitada pela reportagem no último dia 8, há sete quadros pintados por ele. Num deles, retratou a mulher, por quem foi apaixonado, disse ele, durante os 54 anos em que viveram juntos -dona Teresa Pereira Lima Lucchetti morreu em 2011.

SEM PLANEJAMENTO

Lucchetti diz não se arrepender de nada que fez na carreira. E garante: todas as boas oportunidades apareceram sem ele ir atrás. "As que eu pensava querer muito nunca deram certo."

A saída da cidade natal em Santa Rita do Passa Quatro rumo a São Paulo, aos três anos de idade, reservava grandes oportunidades.

A peça radiofônica "A Única Testemunha", escrita aos 12 anos, foi baseada nos contos "O gato preto" e "O coração denunciador", publicados na revista "Fon-Fon". Graças a ela, Lucchetti começou a escrever para o jornal "O Lapiano", da Vila Romana, zona oeste da capital paulista.

PRIMEIRO CHOQUE

Quando tudo parecia correr bem em São Paulo, o pai de Lucchetti foi demitido do emprego, na década de 50, e a família toda mudou para Ribeirão Preto, na casa do avô.

No interior paulista, Lucchetti escreveu roteiros de seriados para rádio e TV, fez publicações para revistas policiais como "X-9", "Detective" e "Contos Magazine".

Na cidade, ele ainda fez comentários para radionovelas e publicou histórias em jornais da época -"nacionais e internacionais".

Ele também gerenciou a loja de peças de automóveis da família. A renda vinda dos negócios foi responsável pelo financiamento de algumas das produções de cinema feitas por Lucchetti em Ribeirão.

ENCONTRO INESPERADO

Assim que voltou para São Paulo, nos anos 1960, ele foi apresentado ao ator e diretor José Mojica Marins, o Zé do Caixão, através de um amigo. Na época, Mojica precisava de um roteirista.

Lucchetti foi contratado e o primeiro trabalho conjunto resultou no filme "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", com três episódios. Em seguida, foi roteirista da série "Além, Muito Além do Além", em que se destaca o episódio "Ritual dos Sádicos", censurado para menores de 18 anos.

Lucchetti também trabalhou como editor em uma editora no Rio de Janeiro, onde conheceu o cineasta Ivan Cardoso. E com ele, trabalhou no filme "O Segredo da Múmia", "As Sete Vampiras" e "O Escorpião Escarlate" (1990).

Atualmente está revisando livros de sua própria autoria para a publicação de uma coleção de suas obras.

'GOOGLE? QUE GOOGLE?'

O roteirista assume que nunca ligou um computador na vida. Diz que não tem familiaridade nenhuma com assuntos "tecnológicos". Cita como exemplo o fato de ter passado 20 anos usando uma máquina de escrever com a fita do lado errado.

Apesar de ter comandado uma loja de autopeças, nunca tirou carta de motorista nem dirige carros. Ele conta que prefere caminhar, andar de táxi e até mesmo tomar um ônibus.

Suas pesquisas ele faz em livros -"Google?, que Google?", pergunta- e assistindo a filmes, de preferência os antigos.

Não gosta de futebol e até hoje não tem muitos amigos. Talvez por isso goste de ficar em casa escrevendo. Sua máquina de escrever -agora com a fita do lado certo- fica no escritório.

Mesmo tendo trabalhado muito, Lucchetti não conseguiu juntar dinheiro para comprar a casa própria. Até hoje, paga aluguel. "Consegui viver bem, pagar um convênio médico. Mas só."


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