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Turismo

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Minha 1ª vez

helio de la penã

Usar tala me deu status de atleta em estação de esqui

O humorista Helio de La Peña, o modelo Paulo Zulu e o piloto Rubens Barrichello contam histórias de quando partiram para novas experiências de viagem

HELIO DE LA PEÑA ESPECIAL PARA A FOLHA

Digamos que a neve não é o meu elemento. Fui criado na Vila da Penha, subúrbio carioca, onde só neva quando passa "A Era do Gelo" no cinema. A família insistiu...As crianças sonhavam fazer bonecos de neve.

Ao chegar ao Valle Nevado, no Chile, me deparei com pessoas sorridentes que dizem adorar o frio. Mas estão camufladas por camadas e camadas de agasalhos, entre capotes, meias, gorros, casacos e aquela peça de nome ridículo, a ceroula. Por que não modernizam o nome desse traje? A ideia é: ou você sente frio ou paga mico. Quando você pede ceroula numa loja, todo mundo em volta solta um risinho irritante!

O primeiro desafio é calçar as botas e andar. Para experimentar a sensação, passe numa clínica ortopédica, mande engessar os dois tornozelos e tente caminhar.

Os instrutores e os feras do esporte caminham e descem escadas como se calçassem havaianas. O turista, sobretudo o marinheiro de primeira esquiagem, anda com muita dificuldade.

O segundo passo é o esqui propriamente dito. Manter-se equilibrado para prender as botas nas ripas já é uma tremenda ginástica. Se não conseguir, não volte à loja --o problema é você. Superada essa etapa, você deve ir para o alto de uma montanha e tentar deslizar precipício abaixo. O que chamam de esporte está mais para vídeocassetada.

Uma dica para quem é pai: nunca leve seu filho para uma pista de esqui, tenha ele quatro ou 20 anos. Não que seja perigoso. É porque ele vai humilhar você. Vai descer com a maior facilidade e vai ficar zoando a sua cara, que estará enfiada na neve. Aí você perde a autoridade e você terá que aumentar a mesada do moleque pra ele parar de postar seus tombos no YouTube.

Ao fim de uma aula, me achei apto a descer uma montanha sem a ajuda do instrutor. Cinco metros abaixo, ouvi um "crec" num dos joelhos. Fui parar numa clínica ortopédica.

"Usted tiene un esguince", disse o médico. "O quê?" "Un esguince", repetiu. "Esguince es tu madre! Hijo de..."

Antes que completasse o elogio, ele me mostrou o Google Tradutor. "Esguince" significa "entorce". Problema de fabricação: meus joelhos não tinham dobradiças. O ortopedista imobilizou minha perna e recomendou que eu abandonasse o esqui. "Por dois ou três dias?", perguntei. E ele: "Por toda la vida, mi amigo!".

Curiosamente, reparei que a tala, em vez de comprovar que eu era uma merda no esqui, me deu um certo respeito: só os feras se lesionam gravemente. Ganhei moral entre os turistas e passei a dar dicas valiosas, como onde fica a clínica e quanto custa a consulta.

A queda no esqui não é uma questão de "se" e sim de "quando" você vai cair. No final, descobri que a temporada de esqui pode ser considerada um sucesso quando você chega inteiro em casa.


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