Folha de S.Paulo

Retrovisor

O advogado engraxado

Em uma tarde quente de 2008, o advogado Luiz Fernando Prioli, especializado em causas empresariais, anunciou no escritório que aquele seria seu último mês. "Vou abrir uma oficina mecânica", completou, para espanto dos colegas.

"Acharam que eu estava nas drogas", ri hoje. A verdade é que Prioli, 47, estava bem de vida, mas infeliz com os rumos da advocacia. "Estudei para fazer justiça, mas não é assim que acontece. Os processos são lentos, os culpados não são presos, a Justiça está obsoleta."

Então ele pensou em sua segunda maior paixão, depois da mulher, os carros antigos. "Vanessa é meu alicerce e me deu força para mudar", derrete-se. "E os fóruns não cheiravam a gasolina." Virou o Alemão, da mecânica Naftalina (www.naftalinaautos.com.br).

"Não era raro um juiz na audiência me chamar de volta à terra, porque eu estava pensando em como adaptar o garfo da embreagem ou como aumentar a taxa de compressão do motor."

Desde os seis anos, quando sua irmã mais velha se casou com o dono de uma mecânica na vizinha rua Clélia, o pequeno lapeano cresceu os olhos nos carrões dos anos 1950, 1960 e 1970. Aos 13, começou a trabalhar para o cunhado, limpando peças e varrendo o chão.

No início dos 1980, Alemão foi beneficiado por fatores econômicos: carrões como Maverick e Dodge perderam o valor e começaram a ser comprados usados pelas classes menos favorecidas.

Os mecânicos não davam muita bola para esses clientes e diziam: "Dá pro moleque mexer". E assim Alemão foi conhecendo os segredos dos antigos.

Crescido, fez faculdade e seguiu a carreira do pai no direito. Até chegar 2008 e abrir sua oficina Naftalina, com o singelo slogan "clínica geriátricomotiva".

A primeira Naftalina nasceu no Butantã. Em 2010, Alemão levou-a à sua amada terra natal, a Lapa. Dificuldades financeiras, no entanto, colocaram um fim ao sonho no mês passado. Mas a Naftalina voltará, ele promete, no início do ano que vem, novamente no Butantã.