Folha de S.Paulo

Retrovisor

O rei do calhambeque

Quando criança, nos anos 1980, Tiago Songa não dava bola para a Caravan de seu pai, mas não tirava os olhos de um Chevrolet Apache 1961 que circulava impávido pelas ruas de Franca (a 400 km de São Paulo).

E gostava ainda mais do Vauxhall quatro portas 1951 que ficava sempre estacionado em frente ao Banespa.

Tiago cresceu, estudou direito e virou jornalista, mas não esqueceu os velhos carangos. Envolvido com clubes de antigomobilismo, queria deixar um legado. "De 200 eventos de antigos no Brasil, 195 são exposições, mostras ou encontros em que o carro fica parado e as pessoas, andando em volta", conta.

Por isso, Tiago pensou em algo diferente, que envolvesse os carros em funcionamento. Para se diferenciar ainda mais, estipulou que os veículos participantes deveriam ter sido construídos até, no máximo, 1936.

Assim nasceu o Pé na Tábua, que teve sua primeira edição em 2011. O evento, também conhecido popularmente como Corrida de Calhambeque, traz várias competições entre velhinhos.

Há uma corrida específica para os modelos Ford A, os preferidos pelos gângsteres de desenho animado e que foram fabricados de 1928 a 1931. Vinte Ford A disputam o troféu hoje.

Em outra prova, sempre vence quem chega por último. Nessa, o recorde é de 1min 10s num trecho de 50 metros.

Além de promover a corrida, Tiago colabora com o meio antigomobilista de outra forma: ele edita o jornal bimestral "O Pistão", distribuído entre sócios de clubes de automóvel.

Figura já tradicional nestes poucos anos de Pé na Tábua é o tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet (1981, 1983 e 1987). No ano passado, ele correu com um Lincoln 1927 azul na Speed, categoria que permite preparação dos carros para maior velocidade.

Piquet viu, venceu e voltou. Hoje ele estará no grid da pequena pista de Franca, tentando conquistar o bicampeonato dos calhambeques.