Apresentador John Oliver procura graça na tragédia

Crítico mordaz de Trump, comediante estreia quinta temporada de talk show 

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Nova York
John Oliver em apresentação beneficente de comédia stand up - Brent N. Clarke/Invision/AP

Um dos homens mais mordazes da televisão, John Oliver acredita que aprendeu a desviar das "bombas verbais" de Donald  Trump. "Ele cria distrações como um mágico, então escrever piadas é filtrar o barulho. Mesmo já estando imunes às coisas que ele fala, precisamos dar atenção às que ainda podem machucar."

O comediante britânico, que acaba de estrear uma nova temporada de "Last Week Tonight", seu talk show na HBO, passou o primeiro ano de mandato do mais polêmico presidente americano tentando criar uma estratégia para lidar com suas idiossincrasias, atacando —com humor— a perversidade de seus discursos um tanto infantis.

Isso quer dizer tentar desassociar o narcisismo tóxico e o estilo peculiar de Trump do impacto mais sério de sua retórica para todo o planeta.

"Ficamos tão calejados ouvindo essas coisas que eu temo deixar passar o mais hediondo no espectro de coisas ultrajantes", diz Oliver, numa entrevista na torre da HBO, em Nova York. "Podemos ignorar quase tudo que sai da boca do presidente, mas não deixar passar suas aberrações escandalosas."

No panorama dos talk shows americanos, que ganharam com Trump uma fonte infinita de piadas e novo sentido de urgência, "Last Week Tonight" tem a diferença de ser semanal, e não diário, o que faz dos monólogos de Oliver uma versão condensada das incoerências do homem na Casa Branca.

AMOR CORRESPONDIDO


Não é só a questão do tempo. O fato de ser britânico também dá ao apresentador uma certa distância dos pontos mais triviais e mesquinhos da política ianque, embora isso tenha mudado um pouco —Oliver, casado com uma americana, acaba de conquistar a residência permanente nos Estados Unidos.

"É desestabilizador se apaixonar por um lugar e pensar que esse lugar pode não deixar você morar nele", diz Oliver. "Só agora notei o quanto isso me perturbava toda hora. É como amar alguém e não ser correspondido."

Mas o amor não podia ser maior. Oliver é um queridinho da crítica, vencedor de dois prêmios Emmy, o Oscar da televisão, e agora uma espécie de novo filho adotado de um país que chama de "bela bagunça de contradições".

Trump é só mais uma delas. "Se você ama esse país, deve saber amar o melhor e o pior dele", diz o comediante, atacando os que prometeram fugir para o Canadá quando o atual presidente foi eleito.

Oliver também lamenta outra fuga, a de seu Reino Unido natal da União Europeia. O "brexit", aliás, é outro assunto que deve voltar ao palco do talk show num momento em que Londres acerta os termos do divórcio do bloco.

"Isso foi muito deprimente", diz o apresentador. "Foi doloroso ver como isso se deu numa atmosfera tóxica, com discursos vápidos e enganosos. É o desejo por uma Grã-Bretanha que não existe mais ou que só existia no passado para umas poucas pessoas."

Sua terapia nesses momentos difíceis é manter o humor sempre afiado, mesmo quando o alvo da piada seja ele mesmo. "Eu me pareço com o Harry Potter refletido na maçaneta de uma porta", ele diz, rindo. "Não me vejo em cima de nenhum pedestal, então a melhor maneira de expressar isso é descrever bem esse buraco que habito."

No atual momento de desespero global, esse é um buraco sem fim. "Não tem jeito. Nas horas trágicas, as coisas podem ser engraçadas", diz Oliver. "Estou preocupado, do ponto de vista humano, mas, do ponto de vista da comédia, vou fazer piada até quando chegar a hora de uma nuvem em forma de cogumelo."


NA TV

LAST WEEK TONIGHT

Nova temporada do talk show

QUANDO às segundas, 21h30, na HBO; às qua., reprise do episódio da semana, às 23h30, no HBO Plus; disponível também no canal HBO Signature (horários variados) e no app HBO Go

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