Velho conhecido dos espectadores do "Jornal Nacional" ou do "Jornal da Globo" —e de outros programas jornalísticos da Globo—, Heraldo Pereira, 56, assume em 5 de março o comando do "Jornal das Dez", da GloboNews.

Ele entra no lugar de Renata Lo Prete, que por sua vez foi deslocada para a chefia do "Jornal da Globo" depois do afastamento de William Waack do diário noturno em novembro. 

A dança das cadeiras aconteceu após vazamento de um vídeo que mostra Waack irritado com uma buzina insistente e, em seguida, dizendo que aquilo é "coisa de preto".

Questionado sobre sua opinião a respeito do comentário do colega de emissora, Pereira desviou-se: "Esse assunto já foi resolvido pela direção de jornalismo da Globo e por William Waack".

Nascido em Ribeirão Preto, interior paulista, Pereira conta que tem registro como jornalista em carteira desde 1978. Foi revisor de texto, repórter, trabalhou em rádio e, em 1981, ingressou na afiliada da Globo em sua cidade natal.

Também estão no seu currículo passagens pela extinta TV Manchete e pelo SBT e a formação em direito. Em 2002, foi o primeiro negro a assumir a bancada do "Jornal Nacional", na Globo.

Nesses 40 anos de carreira, afirma nunca ter sofrido preconceito no ambiente de trabalho por ser negro.

A exceção que aponta rendeu ação judicial contra Paulo Henrique Amorim. Em 2009, Amorim publicou no site "Conversa Afiada", que Pereira era "negro de alma branca" e não havia conseguido mostrar nada além de ser "negro e de origem humilde".

"Fui ao judiciário, e ele está condenado a um ano e oito meses de prisão por injúria racial. A pena foi confirmada pelo STF e serve de parâmetro para equiparação, na prática, do delito de injúria ao de racismo."

Assumir o "Jornal das 10" trará a Pereira o desafio de trabalhar em ano de eleições, no momento pós-impeachment. Para ele, "a Carta de 88 tem sido capaz de fazer o país seguir na trilha democrática desenhada pelo constituinte."

Entre suas experiências como repórter estão a cobertura do impeachment de Collor e dos acordos para acabar com o apartheid na África do Sul, nos anos 1990. "A imprensa brasileira cobre pouco a África", critica.

"Não vemos a África em nossas páginas jornalísticas. Espero que, com o auxílio da tecnologia, toda a imprensa, inclusive a brasileira, tenha cada vez mais oportunidades de analisar os fatos que ocorrem naquele continente."