Discos voadores, surrealismo, energia solar e valvulados inspiram Arnaldo Baptista em shows grátis

'De olho no futuro', fundador d'Os Mutantes faz série de seu 'Sarau o Benedito' e recebe homenagem na Caixa Cultural

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Arnaldo Baptista sempre quis ter uma guitarra da Gibson, mas acabou tomando uma rasteira.

Antes de a fabricante americana anunciar sua falência, há um mês, o músico tentou adquirir um modelo Les Paul —eternizado por nomes como Jimmy Page, do Led Zeppelin.

“Eu fui em São Paulo comprar uma, era meu sonho; mas, quando cheguei em casa e fui tocar, descobri que era uma segunda linha fabricada na Coreia. Uma porcaria!”, esbraveja o músico.

Arnaldo Baptista durante apresentação de seu "Sarau o Benedito" no Sesc Vila Mariana, em 2012
Arnaldo Baptista durante apresentação de seu "Sarau o Benedito" no Sesc Vila Mariana, em 2012 - Gabo Morales - 7.jun.2012/Folhapress

Um dos fundadores do seminal grupo de rock brasileiro Os Mutantes, ao lado do irmão Sérgio Dias e de Rita Lee, Arnaldo, 69, se apresenta nesta sexta (18) e no sábado (19), às 19h15, na Caixa Cultural São Paulo.

Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados no próprio local, a partir das 9h dos dias dos espetáculos.

No domingo (20), no mesmo horário, ele será tema de uma homenagem reunindo China, Hélio Flanders (Vanguart), Karina Buhr e Lulina. A direção musical é de Rodolfo Krieger, baixista da banda Cachorro Grande.

Em seu show, intitulado “Sarau o Benedito”, Arnaldo alterna entre cerca de 30 músicas, das quais escolhe na hora quais cantar.

“Eu até faço um setlist, mas agora é tudo de acordo com a minha vontade. Vou equilibrando o que o público quer e o que eu quero”, explica.

Como já é usual desde 2011, quando voltou a se apresentar após 30 anos, o paulistano estará sozinho, ao piano.

No fundo, um cenário com vídeos que destacam sua obra nas artes plásticas —já expôs em duas individuais em São Paulo suas mesclas de pinturas abstratas a óleo ou acrílica, além de desenhos e colagens.

Entre releituras completas ou vinhetas tresloucadas entremeadas por sorrisos em direção à plateia, Arnaldo deve perpassar clássicos de sua trajetória com Os Mutantes, como “Balada do Louco”.

Ele deixou a banda em 1973, um ano depois de Rita Lee, cuja saída não foi amigável: ela entendia que os colegas a menosprezavam.

A cisão foi também afetiva: Arnaldo e Rita namoravam desde antes de formarem Os Mutantes e haviam acabado de se separar.

Ele ainda dirigiu os dois primeiros discos da cantora, “Build Up” e “Hoje É o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida” —uma espécie de último álbum d'Os Mutantes, embalado sob o nome dela.

Contudo, depois que Rita se casou com Roberto de Carvalho, sobrevieram entre ela e os irmãos mágoas que ainda persistem.

Da fase solo de Arnaldo, destacam-se as releituras do álbum “Lóki?”, venerado como um dos mais importantes do rock nacional, como “Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?” e “Será que Eu Vou Virar Bolor?”.

Devem aparecer também temas de seu disco mais recente, “Let it Bed” (2004), como “To Burn or Not to Burn” e “Imagino”, cuja letra cita uma de suas muitas paixões na vida: a energia solar.

Outros temas, como discos voadores, surrealismo, religiosidade, misticismo e experiências lisérgicas, conduzem a criatividade de Arnaldo, que sofreu danos cerebrais após uma tentativa de suicídio em 1981 e, desde então, vive com a mulher, Lucinha, em um sítio em Juiz de Fora (MG).

“Estou achando uma coisa maravilhosa poder levar minha carreira solo adiante, sem envolvimento com o passado”, diz o músico.

“Você não gosta muito de olhar pro passado, né?”, pergunta a reportagem.

“Se o passado influencia mal, como é o caso, prefiro deixar ele de lado e levar adiante.”

Levar adiante significa manter a rotina pacata: pintar quadros (“Minha menina Lucinha está juntando minhas obras para uma exposição”), cuidar de plantas e avançar na produção do próximo álbum, “Esphera”.

O repórter não resiste a repetir pergunta feita ao artista em 2012: você sonha muito, Arnaldo?

“Sim, em função de coisas que acionam minha criatividade. E cada vez mais sonho acordado, também; vou construindo uma vida sem pesadelos.”

E qual é o maior sonho de Arnaldo Baptista? A paz mundial? Dinheiro, fama?

Não.

“Poder me apresentar com amplificadores e equipamentos de som valvulados. Nenhuma companhia aluga caixas de som com válvulas, eles só têm essas coisas modernas com ligações digitais. É horrível!”

Tradicionais até os anos 1970, os valvulados foram a causa do último desentendimento de Arnaldo com o irmão, Sérgio.

Foi em 2006, quando eles excursionaram juntos pela derradeira vez com Os Mutantes, à época reforçado pela cantora Zélia Duncan.

“Um dia, num aeroporto em Nova York, ele me falou bastante irritado: 'Arnaldo, essas porcarias são frágeis e dificílimas de ligar! Você precisa parar de ser teimoso!' Então não temos tido contato; ele nunca conseguiu me entender...”

 

ARNALDO BAPTISTA
Onde: Caixa Cultural São Paulo
Quando: sexta (18) e sábado (19), às 19h15; domingo (20), às 19h15, em show-homenagem de China, Hélio Flanders, Karina  Buhr e Lulina
Quanto: grátis; retirar ingressos no local após as 9h do dia do espetáculo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.