Descrição de chapéu

Maior pelo tema do que pela beleza, 'Chega de Fiu Fiu' é ferramenta de campanha

Estratégia do roteiro do documentário é ganhar o espectador por meio da razão e da emoção

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DOCUMENTÁRIO CHEGA DE FIU FIU
Cena do documentário 'Chega de Fiu Fiu', de Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão - Divulgação

Chega de Fiu Fiu

  • Quando Estreia nesta quinta (24)
  • Classificação livre
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão

Veja salas e horários de exibição.

No final do ano passado, a atriz Helena Ignez lançou o veredito que se tornou um clássico instantâneo. Indagada sobre as dificuldades de ser mulher no cinema brasileiro, afirmou que a “misoginia perdeu o charme”.

Ignez viu de perto o ovo da serpente. Musa do cinema novo e do cinema udigrudi, é também diretora, roteirista e por aí afora. Conhece o caldeirão por dentro.

“Chega de Fiu Fiu” trata dessa mesma saúva nacional: o machismo. O charme se foi. Combatê-lo tornou-se tão natural quanto levar um copo de água à boca.

Exatamente por isso, o documentário dirigido por Fernanda Frazão e Amanda Kamanchek é maior pelo seu tema do que por sua beleza cinematográfica.

Não se trata de um poema visual ou coisa que o valha. A intenção é clara: ser uma ferramenta para a campanha homônima. Atacar o assédio contra mulheres.

“Chega de Fiu Fiu” se aproxima de “Câmara de Espelhos”, de Déa Ferraz. A duração é parecida, ambos têm menos de 80 minutos e abraçam o feminismo com virulência.

Porém, se “Câmara de Espelhos” trata da reflexão dos homens sobre as mulheres, em “Chega de Fiu Fiu”, as próprias mulheres falam de si mesmas. Há, também, uma breve concessão ao convescote de homens —oportunidade em que a trama cresce. Ouve-se o lado oposto.

O filme é hábil em expor mundos diferentes. Mulher obesa, transexual, negra, branca, paulista, baiana. Um sem número de entrevistadas, na euforia das “interseccionalidades”.

Nesse jogral sociológico, vemos explicações racionais e momentos de choro. Está clara a estratégia do roteiro, de ganhar o espectador por meio da razão e da emoção.

A fome central da narrativa ainda precisa ser temperada. Nem sempre é plausível ver um filme igualar penetrações forçadas —como as que são narradas por algumas moças—, com a boçalidade de outros pequenos machos, que trotam no bosque de suas inseguranças contando piadas infelizes.

Como sempre, um filme é o produto de suas circunstâncias. Históricas, amorosas, estilísticas. “Chega de Fiu Fiu” traz um bom resultado e parece apontar para uma burilagem nas teses sobre o empoderamento feminino que vêm pipocando para o grande público.

O cinema "millennial" está quase entendendo que toda a energia das causas pode ser canalizada em narrativas melhor costuradas. Em breve conseguirão.

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