Descrição de chapéu Moda

Jovens fogem da catarse virtual e se aproximam de vida analógica

Cansados do excesso de tecnologia, homens retomam prazer de escrever à mão e da moda sob medida

Pedro Diniz
São Paulo

“Antes de achar o Instagram do amigo um conto de fadas, dê uma olhada na caixa de remédios dele.”

Esse é o novo ditado na boca dos gurus de tendências dos EUA. A partir da análise de que o mundo virtual virou ilusão de ótica saturada cujos efeitos geram angústia instantânea, traça-se um novo caminho para entender a juventude, até então adormecida, de costumes quase analógicos.

A chamada geração “exit”, ou geração fuga, seria essa que minou um milhão de usuários do Facebook neste ano. Seria também a parcela de 60% dos jovens de uma pesquisa recente da Motorola que reconhece a necessidade de ter uma vida separada do celular. 

O termo “Gen Exit” foi criado pela consultoria Box 1824, fundadora do conceito de “normcore”, cujo produto resultou na atual onda de estilo urbano do varejo mundial.

À frente do estudo, Sophie Secaf explica que essa geração é formada por jovens entre “millennials”, nascidos pós-1990, e a geração Z, ainda na pré-adolescência. Esse grupo rejeita a perfeição vendida pela tecnologia e o marketing pessoal das plataformas, “porque está cansado de investir recursos emocionais”.

Na prática, ela diz, restringe-se o uso do celular para aplicativos essenciais de comunicação e cultiva-se um estilo que “não seja refém de identidades estabelecidas”. 

“O conceito de ‘high tech’ era interessante pelo futurismo, mas, hoje, as marcas de moda mais cultuadas, como Supreme, Off-White ou Vetements, não são nada tecnológicas”, diz Secaf.

O mercado da moda já reage ao movimento de disrupção para agradar aos jovens a fim de escape e experiências.

Advogado, Guilherme Melo, 32, é um deles. Notebook usa “quase nunca”, e celular, só para falar. No bolso há sempre uma caneta, que diz usar em 80% do dia para escrever.

“Algumas pessoas falam que tenho 90 anos, mas encaro com bom humor. Assim como eu, muita gente quer conciliar o melhor dos dois ambientes, conservar hábitos modernos e tradicionais ao mesmo tempo”, explica Melo.

Abotoadura, camisa bordada com monograma e costume feitos em alfaiate, fazem parte de seu combo imagético. 

Mesmo guarda-roupa do geógrafo Thiago Medeiros, 33, que segue a toada de desconexão apesar de manter as redes sociais ativas, e tem uma coleção de canetas, muitas delas da grife Montblanc.

“A caneta pode ser uma tecnologia obsoleta, mas é confiável e oferece um prazer sensorial, o mesmo de fazer a barba com navalha”, diz ele, um dos homens que aderiram ao hábito de frequentar barbearias.

Negócio em expansão, os espaços de beleza masculina têm como um dos principais casos de sucesso a Cavalera, grife dona de uma rede homônima de barbearias no ranking das 50 melhores do mundo, segundo o site “FashionBeans”.

A estética “exit”, vale dizer, não é a mesma que a vintage, porque não prega a imagem mofada, e sim a reedição de hábitos e costumes dentro de um contexto tecnológico.

Bom exemplo da equação é a Oficina, uma grife mineira de alfaiataria sob medida que nasceu como startup e foi adquirida pelo Grupo Reserva. 

Por meio de aplicativo ou site, o homem marca a visita de um dos 200 consultores da marca, que vai até ele tirar medidas e, após 25 dias, em média, a camisa está pronta. O público da alfaiataria do século 21 é jovem, vai dos 25 aos 45 anos, segundo o cofundador Felipe Siqueira, 30.

“São pessoas que entenderam o fato de nada vestir tão bem quanto aquilo feito para você. Tanto que 80% dos clientes são homens que compravam em lojas comuns”, diz.

Esse interesse jovem também move os lançamentos da grife de canetas de luxo Montblanc, que investe em coleções especiais pop como a dedicada aos Beatles e a mais recente, em homenagem a “O Pequeno Príncipe”, clássico de Antoine de Saint-Exupéry. 

Segundo o novo diretor da marca no Brasil, Michel Cheval, o plano é crescer no país um percentual de dois dígitos ainda neste ano. Até dezembro, a grife terá aberto duas “flagships”, uma em São Paulo e outra no Rio.

“Os homens trocaram a gravata por outros acessórios. Canetas, bolsas e relógios são o cimento da nova imagem masculina”, afirma Cheval.

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