Grande bandolinista brasileiro da atualidade, com trabalhos que vão do choro de raiz ao jazz mais delirante, Hamilton de Holanda só poderia ser devoto de um artista que carrega até no nome seu instrumento de coração.

Jacob do Bandolim (1918-1969) é referência obrigatória para Hamilton ou qualquer outro que assumir o instrumento. E é com um bandolim de dez cordas, como o mestre usava, que ele gravou "Jacob 10ZZ", novo álbum de seu Hamilton de Holanda Trio.

Os músicos que acompanham o bandolinista são Thiago da Serrinha, na percussão, e Guto Wirtti, no contrabaixo. Uma química madura, em um formato enxuto que faz completo sentido. Não há razão para encorpar os arranjos com mais instrumentos. As versões privilegiam o toque exímio e refinado de Hamilton. Quem tem acesso a gravações originais de Jacob pode fazer em casa um saboroso exercício de comparação.

A seleção do repertório contempla as músicas mais lentas, algumas chorosas, ao lado das mais agitadas e, tecnicamente falando, complexas. A devoção carinhosa de Hamilton demonstra como o talento pode transformar um aluno aplicado em praticamente um coautor, inserindo nas músicas um toque pessoal, algo jazzístico mas respeitoso.

Para muitos não tão familiarizados com a música de Jacob, algumas faixas podem cutucar a memória afetiva. Clássicos como "Remelexo", "Bole Bole" e "Alvorada" vão despertar reações do tipo "claro que eu já ouvi isso antes".

Difícil tarefa destacar faixas. Da cadência envolvente de "Pérolas", "Nostalgia" e "Mágoas", ao samba empolgante de "Vale Tudo", passando às aceleradas "Saracoteando" e "Forró de Gala". Versões primorosas. Entre as 12 faixas, apenas duas não são de Jacob. Uma é "Naquela Mesa", de Sérgio Bittencourt, filho de Jacob. A outra foi composta por Hamilton, "Serenata Jacarepaguá".

Lançado no centenário de nascimento do compositor, "Jacob 10ZZ" chega com a promessa de outros discos de Hamilton dedicados ao mestre. Que venham logo.