Descrição de chapéu

'Nos Vemos no Paraíso' tem combinação rara de extravagância e naturalismo

Filme baseado em livro de Pierre Lemaître narra final da Guerra de 1914 e vida em Paris após armistício

cena do filme nos vemos no paraíso

Cena do filme 'Nos Vemos no Paraíso' Jerome Prebois/Divulgação

Lúcia Monteiro

Nos vemos no paraíso (Au revoir là-haut)

  • Quando Estreia nesta quinta (5)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Nahuel Pérez Biscayart, Albert Dupontel, Laurent Lafitte
  • Produção Canadá/França, 2017
  • Direção Albert Dupontel

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Com uma combinação rara de extravagância e naturalismo, Albert Dupontel leva às telas o romance que rendeu a Pierre Lemaître o prêmio Goncourt de 2013, narrativa dos últimos dias da Guerra de 1914 e da vida em Paris após o armistício.

"Nos Vemos no Paraíso" é narrado em primeira pessoa por Albert Maillard (interpretado pelo próprio Dupontel), que rememora, num longo flashback, seu tempo de soldado na Colina 113. Numa batalha, Albert cai em um buraco e seu amigo Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart), ao resgatá-lo, é atingido por um obus que lhe deforma o rosto definitivamente. Depois da guerra, os dois se associam numa série de trambiques.

​A história de um sobrevivente desfigurado que muda de identidade não é nova no cinema –poderíamos lembrar o hábil roteiro de "Phoenix" (2014), de Christian Petzold. Mas, embora os dois filmes compartilhem o clima noir, o tom escolhido por Dupontel é outro.

A visualidade fantasiosa, o encadeamento das ações fluido porém pouco verossímil, a mise-en-scène maneirista e a atuação do próprio realizador no papel de protagonista conferem aspecto farsesco ao longa francês. Mas é verdade que o absurdo da guerra e suas situações extraordinárias justificam os excessos.

Eles estão presentes em primeiro lugar na fotografia. O tom sépia recorrente em narrativas de época se soma a uma paleta de cores que vai do mais sombrio (nas cenas de hospital ou no sótão onde vivem os protagonistas) à exuberância extrema (como no terno amarelo de Albert).

Pontuado por coincidências pouco críveis, o roteiro não chega a surpreender. Consegue, no entanto, comover, sobretudo graças ao cativante personagem de Édouard. As engenhosas máscaras que lhe cobrem o rosto não nos impedem de acessar suas emoções —a expressividade de Biscayart deve ser louvada.

Mas, se os filmes anteriores de Dupontel chamavam atenção pelas soluções criativas, seu longa de maior orçamento (perto de 20 milhões de euros) se destaca pelo exibicionismo na mise-en-scène.

No início, o plano aéreo que acompanha um cão mensageiro até a trincheira soa gratuito. Mais prazer visual traz a entrada de Albert na mansão da família Péricourt: um plano-sequência de dois minutos com movimentos bem arquitetados de quatro personagens põe em evidência o contraste entre a suntuosidade dos moradores e a condição modesta do convidado.

Por fim, a atuação de Dupontel deixa a desejar. Seu olhar, sempre assustado, traz uma comicidade às vezes inadequada. Neste caso, talvez fosse melhor não tê-lo como ator e diretor.

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