Descrição de chapéu Artes Cênicas

'A Milionária' ressalta olhar cínico de Shaw sobre concentração de renda

Peça do dramaturgo irlandês ganha montagem em São Paulo

Priscilla Olyva, (esq.), Guilherme Gorski e Chris Couto em ensaio de 'A Milionária' - Lenise Pinheiro/Folhapress
MLB
São Paulo

Bernard Shaw sabia ser irônico inclusive consigo mesmo: "Os gregos tiveram Aristóteles, os italianos, Leonardo da Vinci, os ingleses, Shakespeare. E a Irlanda tem o estupendo eu", exagerava o escritor (1856-1950).

"Ele é um autor extremamente dialético. E tem uma concepção sobre a comédia de que eu gosto muito: de que a comédia é uma tragédia que foi adiada", diz o ator e produtor Sergio Mastropasqua, que estreia nesta sexta-feira (3) "A Milionária", sua quarta montagem da obra de Shaw.

Definida como uma comédia didática sobre o amor e o dinheiro, a peça acompanha Epifânia Ognisanti di Parerga (Chris Couto), mulher endinheirada que se reúne com o advogado (Mastropasqua) para discutir um possível suicídio e o destino de sua herança.

Ela, que se casou com um boxeador amador, ressente o marido por infidelidade. E já tem, ela própria, um novo interesse amoroso, um intelectual autoproclamado.

"A Milionária" foi escrita em meados da década de 1930, logo após a crise a de 1929. Shaw parte de uma situação cômica, um quiproquó amoroso e familiar, para descortinar sua crítica social e política.

O autor, um socialista fabiano —que rejeita ideias utópicas e a revolução para implementar o sistema—, trata da concentração de renda, dos direitos de trabalhadores e da crise da democracia.

"Ele já fala disso no prefácio da peça, sobre a crise da representatividade da democracia lá em 1930 na Inglaterra", afirma Thiago Ledier, que dirige a montagem.

"Shaw fez uma peça sobre esse tipo de personalidade, dos 'mandões', como ele chama. São pessoas, como a Epifânia, tão impositivas, magnéticas, que conseguem controlar todo mundo ao redor. Hoje ela seria como uma palestrante motivacional."

Mas mesmo uma figura como ela acaba, na dramaturgia de Shaw, se deparando com as mazelas da sociedade em que vive. Em determinado momento, percebe como as condições de trabalho para mulheres são muito inferiores às dos homens.

"Ele trata de assuntos extremamente atuais", diz Mastropasqua, que neste ano também integrou o elenco de "A Profissão da Senhora Warren", espetáculo do irlandês que discute a prostituição.

A temporada de "A Milionária" faz parte de um projeto de Mastropasqua para popularizar o autor irlandês no país. "Infelizmente, ele não é muito montado no Brasil", diz.

Ele e Ledier já trabalham na tradução e na produção de outra peça, "4004 AC: A Origem".

A Milionária

  • Quando Sex. e sáb., às 21h, dom., às 19h
  • Onde Teatro Cacilda Becker, r. Tito, 295: de 3 a 26/8. Teatro João Caetano, r. Borges Lagoa, 650: de 31/8 a 23/9
  • Preço Grátis
  • Classificação 14 anos
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