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Com visão objetiva, livro desfaz folclore em torno de Silvio Santos

'Topa Tudo por Dinheiro', de Mauricio Stycer, mostra lado empresarial e político do proprietário do SBT

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São Paulo

Em 1989, os brasileiros foram às urnas para escolher o primeiro presidente por voto direto desde a eleição de Jânio Quadros, três décadas antes. As Diretas Já trouxeram a redemocratização e, à época, o SBT era o canal de televisão com a segunda maior audiência do país.

O dono, Silvio Santos, detinha influência pública condizente com o alcance de sua emissora. A menos de 20 dias do pleito, o apresentador decidiu que iria concorrer ao cargo máximo da nação, e, para tanto, filiou-se às pressas ao minúsculo PMB, o Partido Municipalista Brasileiro.

Quis o destino que a candidatura fosse barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral, que considerou que o partido estava em situação irregular.

O flerte com a política por parte de uma das figuras mais poderosas da TV num país recém-saído da ditadura é uma das histórias narradas em "Topa Tudo por Dinheiro: as Muitas Faces do Empresário Silvio Santos", livro-reportagem de Mauricio Stycer, jornalista e colunista da Folha, que será lançado na semana que vem, em São Paulo.

"Foi uma irresponsabilidade dele. É mais ou menos como se o Luciano Huck resolvesse virar candidato a presidente agora", compara o autor.

De acordo com Stycer, esse capítulo da biografia do apresentador —assim como o fato de que, nos anos seguintes, ele viria a disputar o comando do governo do estado de São Paulo e da prefeitura da cidade, em tentativas malsucedidas— foi esquecido e virou quase folclore.

Outro momento marcante da narrativa é quando Silvio revela publicamente o casamento com sua primeira mulher, Cidinha, 11 anos após a morte da esposa, em 1977. Manter este segredo foi "uma das coisas mais imperdoáveis que fiz", desculpou-se.

O livro se debruça também sobre outra faceta do comunicador —a de homem de negócios.

Como um "self-made man" à brasileira, Silvio começou aos 15 anos, vendendo capas para proteger títulos de eleitor nas ruas do Rio de Janeiro. No final dos anos 1950, virou sócio do Baú da Felicidade. Estreou na telinha em 1960, vendendo os próprios produtos no programa "Vamos Brincar de Forca".

O programa era exibido pela TV Paulista (futura Globo), da qual Silvio alugava horários na grade. Desde aquela época, ele não tinha papas na língua ao alardear que encarava a televisão como um meio de gerar renda para sustentar o Baú e, mais tarde, a Tele Sena.

"Eu não sou um homem de televisão. Só estou nela por ser um bom negócio. Eu sou um comerciante. Um homem de negócios", enfatizou aos jornalistas Décio Piccinini e Engelber Paschoal, da revista A Crítica, no final dos anos 1960.

O ponto de partida para a pesquisa de seis meses que resultou no livro foi a idade do apresentador. Em todas as entrevistas que deu para a imprensa até meados da década de 1980, o dono do SBT subtraiu cinco anos do número real, sem revelar sua verdadeira data de nascimento (12 de dezembro de 1930).

De acordo com Stycer, a personalidade elusiva permitiu que Silvio construísse seu próprio folclore, mantido praticamente intacto com as seis biografias já publicadas a seu respeito.

"Topa Tudo por Dinheiro" foi construído a partir dessas biografias, mais reportagens de revistas e jornais e entrevistas com figuras próximas ao apresentador. (Silvio Santos não quis ser entrevistado, mas desejou ao autor, por meio de sua assessoria, "sucesso na caminhada".)

"Percebi que, apesar de todo esse material, havia um vazio que poderia ser preenchido por um novo livro. Tentei levantar histórias que mereciam ser contadas de maneira mais objetiva, menos laudatória, e deixar claro alguns problemas que vejo na postura dele como empresário da comunicação", afirma Stycer.

Topa Tudo por Dinheiro

Mauricio Stycer. Ed. Todavia. R$ 54,90 (256 págs.). Lançamento na quarta (19), às 19h30, na Livraria da Vila, r. Fradique Coutinho, 915, São Paulo

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