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Quando se pensa em comédia italiana, a primeira ideia que vem junta tipos excêntricos, comportamentos exagerados e humor caricatural. "A Vida em Família" evita esse paradigma trocando a hipérbole pela ironia.
O título original se refere à vida em comunidade, às diferenças que aprendem a conviver, ao entendimento e à negociação inerentes aos conjuntos humanos. O contrário de isolamento e de desunião, portanto.
Tudo parece parado em Disperata, pequena localidade perdida no litoral da Puglia. Um punhado de homens passa o dia sentado no bar, a dona do mercadinho sobrevive abastecendo a minguada clientela e os ladrões de galinha Pati e Angiolino improvisam assaltos enquanto sonham entrar para a máfia.
Nas reuniões do conselho municipal, um grupo quer preservar as belezas naturais da região e a oposição tem planos de, em nome do progresso, construir um hotel e privatizar a paisagem.
O prefeito tenta ser político, mas preferiria estar em casa fazendo poesia e idealizando o amor, em vez de ter de administrar vontades que não passam de egoísmos.
Esse agrupamento de tipos à primeira vista lunáticos logo mostra ser feito de comportamentos e expectativas muito comuns. A impressão inicial permite ao diretor Edoardo Winspeare satisfazer a quem ainda espera do cinema italiano características de um passado folclórico, como o comilão que vai a cantinas para mergulhar nos pratos com excesso de molho.
Por baixo dessa imagem bruta, o filme ausculta o presente, em que a pobreza pintada noutros tempos pelos Fellinis, Scolas e Monicellis ressurge piorada. Enquanto no passado a miséria material era enganada pela alegria de viver e pelo riso da própria desgraça, a falta agora indica esgotamento, perda de vontade, desesperança.
Disperata não é apenas sinônimo de deprimida ou desolada, como entendem os parcos turistas perdidos que param por lá. Falta de esperança confunde-se aqui com expectativa frustrada, sentimentos de quem acreditou na promessa de que o mundo estava melhorando e a cada dia descobre que depois do ruim vem sempre o pior.
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