Descrição de chapéu

Irônico, 'A Vida em Família' evita paradigma de comédia italiana

Longa trata da desesperança em Disperata, pequena localidade no litoral do país

Cena do longa "A Vida em Família"
Cena do longa italiano 'A Vida em Família' - Divulgação
Cássio Starling Carlos

A Vida em Família (La Vita in Comune)

  • Quando Estreia nesta quinta (6)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Gustava Caputo, Claudio Giancreco, Antonio Carluccio, Celeste Casciaro
  • Produção Itália, 2017
  • Direção Edoardo Winspeare

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Quando se pensa em comédia italiana, a primeira ideia que vem junta tipos excêntricos, comportamentos exagerados e humor caricatural. "A Vida em Família" evita esse paradigma trocando a hipérbole pela ironia.

O título original se refere à vida em comunidade, às diferenças que aprendem a conviver, ao entendimento e à negociação inerentes aos conjuntos humanos. O contrário de isolamento e de desunião, portanto.

Tudo parece parado em Disperata, pequena localidade perdida no litoral da Puglia. Um punhado de homens passa o dia sentado no bar, a dona do mercadinho sobrevive abastecendo a minguada clientela e os ladrões de galinha Pati e Angiolino improvisam assaltos enquanto sonham entrar para a máfia.

Nas reuniões do conselho municipal, um grupo quer preservar as belezas naturais da região e a oposição tem planos de, em nome do progresso, construir um hotel e privatizar a paisagem.

O prefeito tenta ser político, mas preferiria estar em casa fazendo poesia e idealizando o amor, em vez de ter de administrar vontades que não passam de egoísmos.

Esse agrupamento de tipos à primeira vista lunáticos logo mostra ser feito de comportamentos e expectativas muito comuns. A impressão inicial permite ao diretor Edoardo Winspeare satisfazer a quem ainda espera do cinema italiano características de um passado folclórico, como o comilão que vai a cantinas para mergulhar nos pratos com excesso de molho.

Por baixo dessa imagem bruta, o filme ausculta o presente, em que a pobreza pintada noutros tempos pelos Fellinis, Scolas e Monicellis ressurge piorada. Enquanto no passado a miséria material era enganada pela alegria de viver e pelo riso da própria desgraça, a falta agora indica esgotamento, perda de vontade, desesperança.

Disperata não é apenas sinônimo de deprimida ou desolada, como entendem os parcos turistas perdidos que param por lá. Falta de esperança confunde-se aqui com expectativa frustrada, sentimentos de quem acreditou na promessa de que o mundo estava melhorando e a cada dia descobre que depois do ruim vem sempre o pior.

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