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Livros

Narrativa de viagem do Iraque à Rússia no século 10 aumenta mundo ao nosso redor

Livro traz relato de viajante árabe que percorreu 5.000 do Iraque até a Rússia

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Antonio Banderas no filme  "O 13º Guerreiro", inspirado no relato de Ahmad Ibn Fadlān
Antonio Banderas no filme "O 13º Guerreiro", inspirado no relato de Ahmad Ibn Fadlān - Reprodução
Sofia Nestrovski
São Paulo

Há livros que fazem o mundo parecer maior. O horizonte se alarga quando lemos histórias de aventuras, relatos de viagens a lugares distantes, biografias de pessoas curiosas. 

Não são muitas as obras que provocam esse efeito — mas as que o fazem oferecem para o leitor adulto o mais próximo que se pode ter da experiência de ler livros na infância. 

“Viagem ao Volga”, escrito em árabe por um homem que viveu há mais de mil anos, pertence a essa categoria: a obra aumenta o mundo ao nosso redor, dá mais esperança às nossas experiências.

Sabemos muito pouco sobre seu autor. Ahmad Ibn Fadlãn viveu em Bagdá e foi funcionário do califa. No começo da década de 20 do século 10, partiu a cavalo de sua terra natal e atravessou quase 5.000 km até chegar ao território que hoje é a Rússia.

Ibn Fadlãn viajou como parte de uma comitiva oficial que prometia levar ajuda ao rei dos eslavos, recém-convertido ao islã. Mas o relato não se restringe aos interesses burocráticos. O autor descreve também pessoas e paisagens, costumes e culturas que encontrou pelo caminho.

Num mundo anterior ao Google Maps e à globalização, tudo parecia muito diferente.

Há gigantes e monstros pelo caminho; há nuvens vermelhas que lutam na madrugada (Ibn Fadlãn não conhecia as auroras boreais pelo nome); há mulheres que não escondem o sexo na frente dos homens; há homens que carregam consigo falos esculpidos em madeira; e há perigos e ameaças, algumas contra 
o narrador.

Além de todos esses encontros, o livro contém o único relato ocular que restou de um funeral viking tradicional. Tudo aquilo que Ibn Fadlãn viu, ele narrou com a mesma curiosidade e atenção. 

Quase não julga o que vê, quase não reclama — nem mesmo do frio. Mas quando reclama, até isso nos cativa: “Eu vi o quão frio era o clima: os mercados e as ruas ficam tão vazios que quem passa por ali não encontra sequer um ser humano. Quando eu saía do banheiro e entrava na casa, via que minha barba tinha virado um bloco maciço de gelo, que eu tinha de derreter em frente à fogueira”. 

Os acontecimentos são muitos, mas seu relato é breve. Ocupa menos de 60 páginas e se lê numa sentada.

O texto que temos hoje, como explica o tradutor no prefácio, também teve suas aventuras —é a recuperação de fragmentos que foram aparecendo ao longo da história, em países diferentes.

Esta é sua primeira edição no Brasil. Vem bem traduzida e com projeto gráfico de Tereza Bettinardi.

Mas, com todos os diferentes mundos que Ibn Fadlan nos apresenta, faltaria, para essa edição de luxo se tornar uma versão definitiva, notas que apresentassem o mundo de onde Ibn Fadlãn partiu.

Assim entenderíamos suas variações de humor (inclusive seu senso de humor) ou por que, por exemplo, um companheiro seu disse ter visto um rinoceronte pelo caminho (provavelmente não viu —estava fazendo referência a um lugar-comum da literatura).

Acompanhamos a viagem que Ibn Fadlãn fez, mas a viagem que temos de fazer para chegar até ele não é tão fácil. Nossos mundos não são os mesmos. Seria interessante ver mais a fundo o quão diferentes eles são.

Viagem ao Volga

  • Preço R$ 67,90 (114 págs.)
  • Autoria Ahmad Ibn Fadlãn
  • Editora Carambaia
  • Tradutor Pedro Martins Criado
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