Descrição de chapéu

Ao usar materiais comuns, Robert Morris influenciou rumos da arte no século 20

Um dos principais nomes do movimento minimalista, artista morreu na última semana, aos 87 anos

Bernardo Glogowski

"A simplicidade das formas não significa necessariamente a simplicidade da experiência”, escreveu o artista plástico americano Robert Morris, morto na semana passada, aos 87.

O artista foi pioneiro do movimento minimalista, da “land art” e da arte conceitual. Teve uma carreira dinâmica, de mais de 50 anos, e mudou várias vezes de direção. Trabalhou com pintura, escultura, instalação, dança e performance.

Nascido no Missouri, em 1931, estudou no Instituto de Arte de Kansas City. Mudou-se, em 1959 para Nova York, onde cursou mestrado na faculdade Hunter.

Com sua primeira mulher, a dançarina Simone Forti, participou da Judson Dance Theater, companhia para a qual Morris criou coreografias e objetos de cena. Esses objetos foram suas primeiras experimentações minimalistas.

Ao lado de artistas como Carl Andre, Dan Flavin e Donald Judd, foi um dos pioneiros da arte minimalista. As esculturas criadas por esses artistas eram marcadas pelas formas geométricas rígidas, repetição e disposição em série. Os materiais eram prosaicos: industriais e pré-fabricados. Questionavam, assim, a separação entre objetos comuns e artísticos.

O artista plástico Robert Morris, que morreu na semana passada, aos 87 anos
O artista plástico Robert Morris, que morreu na semana passada, aos 87 anos - Todd Heisler/The New York Times

Em 1965, Morris expôs “Sem Título”, quatro cubos espelhados que refletiam o ambiente: o observador, a luminosidade, a paisagem. A escultura não poderia mais ser vista como separada do espaço à sua volta. Um exemplar dos cubos espelhados faz parte da coleção do Instituto Inhotim.

O artista não se limitou ao movimento que ajudou a estabelecer. Já no final dos anos 1960 criou esculturas combinando a rigidez das formas geométricas com amontoados disformes de feltro, fios elétricos, chumbo e asfalto. Deixava as formas se definirem pelos próprios materiais. Na época, alguns críticos definiram essa arte como pós-minimalismo.

Se a escultura no pós-Guerra foi marcada por uma tendência à desmaterialização, a obra de Morris acompanhou esse percurso.

“Steam”, de 1967, era um fluxo contínuo de vapor que emergia de um quadrilátero de rochas. Considerado um exemplo precursor do que veio a ser chamado de “land art”. O movimento propunha uma expansão radical do campo da escultura: obras feitas no espaço da natureza, com materiais recolhidos na natureza.

É o caso de “Observatory”, de 1970, trabalho no qual Morris criou uma instalação circular de 71 metros de diâmetro a céu aberto. A obra foi construída com terra compactada e elementos de madeira, granito e aço. O artista diz ter sido influenciado por “construções neolíticas e complexos arquitetônicos do Oriente”.

Em 1974, publicou um anúncio sobre sua exposição na revista Artforum: um controverso auto-retrato, no qual aparece vestido na estética sadomasoquista. (Assim como fez Lynda Benglis, artista com a qual Morris colaborou em diversos vídeos).

A multiplicidade de sua obra repercutiu no meio artístico de sua época. Sua radicalidade chocou alguns críticos, mas muitos, como Rosalind Krauss e Lucy Lippard, reconheceram a potência transformadora do trabalho de Morris.

Visitante em criação de Morris no museu Guggenheim, em Bilbao
Visitante em criação de Morris no museu Guggenheim, em Bilbao - Vincent West - 10.out.2000/Reuters

Também crítico, seus ensaios foram influentes, ao explicar as teorias ao redor do minimalismo e trazer sua reflexão radical do que poderia ser a escultura. Sua postura transgressora, com uso de materiais não artísticos e o questionamento dos limites do próprio objeto artístico, influenciou os rumos da arte tridimensional no século 20.

Nos anos 1980, sua obra assumiu um tom mais sombrio. Na série “Firestorm” os desenhos figurativos trazem uma atmosfera apocalíptica. As esculturas de “Hypnerotomachia” mostram ogivas nucleares e cenários de corpos, cinzas e devastação. Segundo, Morris, essas imagens vieram do temor de uma destruição nuclear.

Até o final de sua vida seguiu criando. Em 2017 a série “Boustrophedons”, reuniu esculturas em resina epóxi escura com corpos retorcidos ou cobertos como cadáveres e espectros fantasmagóricos. Esses últimos trabalhos são representações do sofrimento e alegorias da morte.

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