Descrição de chapéu

O Rio nunca foi tão pouco carioca quanto em 'Intimidade Entre Estranhos'

Filme brasileiro sobre relacionamentos inusitados é sensível, mas convencional

Bruno Ghetti

Intimidade Entre Estranhos

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Rafaela Mandelli, Milhem Cortaz, Gabriel Contente
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção José Alvarenga Jr.

O Rio nunca foi tão pouco carioca no cinema quanto em “Intimidade Entre Estranhos”, de José Alvarenga Jr. Os personagens reiteram várias vezes que a trama se passa na cidade, mas a câmera só mostra a paisagem urbana de soslaio, com foco em prédios pouco fotogênicos ou em ambientes internos. Não há uma só gota de mar.

Há, no entanto, muitas cenas em uma piscina, instalada na varanda do apartamento de um casal. É ali que Maria (Rafaela Mandelli, em ótima performance) tenta relaxar –ela é uma carioca traumatizada com o Rio, mas que volta à cidade para fazer companhia ao marido.

Rafaela Mandelli em cena do filme "Intimidade entre Estranhos"
Rafaela Mandelli em cena do filme "Intimidade entre Estranhos" - Divulgação

Ele é Pedro (Milhem Cortaz), um ator de talento discutível, alcoólatra, que luta para se firmar na carreira com papeis em novelas bíblicas luso-brasileiras (há um divertido elemento de autoironia no personagem: o próprio Cortaz já participou de tramas religiosas da Record).

No prédio em que moram, há apenas outro condômino, Horácio (Gabriel Contente), rapaz tímido e moralista. Após certa hostilidade inicial, Maria começa uma relação com o jovem que flui entre a amizade e o desejo, sentimentos que se intensificam quanto mais seu casamento com Pedro fica em crise.

O filme é sobre relacionamentos inusitados, entre pessoas que, em outro contexto, talvez jamais se aproximassem. E também é sobre “amores loucos” –a inspiração vem da música “Intimidade Entre Estranhos”, de Frejat e Leoni, sobre alguém que ouve à distância as rusgas entre um casal de vizinhos malucos.

Em menos de três meses, Alvarenga conseguiu uma façanha: teve dois longas entrando em circuito comercial no Brasil. Mas já que em “10 Segundos para Vencer” mostrava a história de Éder Jofre a partir de uma narrativa acadêmica, até meio quadrada, bem que poderia ter aproveitado o porte menor de seu outro projeto para fazer um filme mais livre, ousado. Infelizmente, perdeu essa chance; “Intimidade” é sensível, mas convencional.

A única cena que de fato traz algum mistério é quando Horácio ouve de Pedro que é como um amigo gay para Maria –ao que o jovem responde com um inesperado beijo na boca do vizinho.

Ao fim da projeção, no entanto, é um outro enigma que de fato chama atenção: o que José Dumont e Jayme Periard estão fazendo no filme, afinal de contas? Desperdiçados como estão, parecem meros resquícios de cenas cortadas na montagem.

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