Descrição de chapéu

Cinebiografia de Eder Jofre não força a mão para intensificar conflitos

História do pugilista, um dos grandes atletas brasileiros, recebeu tratamento sóbrio de roteiristas

Cássio Starling Carlos

10 Segundos para Vencer

  • Quando Estreia nesta quinta (27)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Daniel de Oliveira, Osmar Prado, Sandra Corveloni, Keli Freitas
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Jjosé Alvarenga Jr.

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Um personagem incomum, pleno de qualidades e comportando fragilidades, é matéria-prima essencial para o sucesso do filme biográfico. Heroico e ao mesmo tempo humano, abatido e ainda assim capaz de ir além dos limites são características frequentes em grandes atletas. Entre estes, o boxeador encarna melhor do que todos as virtudes de quem, sozinho, enfrenta seu destino.

“10 Segundos para Vencer” refaz a trajetória de Éder Jofre, pugilista peso-galo que saiu do nada até se tornar um dos grandes atletas brasileiros. Como é usual nas cinebiografias, esta também começa pela infância pobre, passa pela ascensão, as dúvidas, o apogeu e o declínio, interrompido por um inesperado triunfo tardio.

 

A história de Jofre, rica em lances dramáticos, recebe um tratamento sóbrio dos roteiristas, que não precisaram forçar a mão para intensificar conflitos. A produção caprichada salta aos olhos na recriação do ambiente familiar e na recriação de época, intensificando a impressão de veracidade da narrativa.

A direção de José Alvarenga Jr. segue o mesmo padrão de obediência ao material, sem muita personalidade, mas sabendo não atrapalhar. A contribuição mais consistente do diretor transparece no trabalho dos atores, elemento mais decisivo em cinebiografias que em outros gêneros.

Não se trata apenas de obter um desempenho espetacular do ator principal, mas também de conseguir evitar que sua atuação se perca em cabotinismos. Ao mesmo tempo, o elenco de apoio tem de alcançar um tom que se equilibre e impeça um dos instrumentos de soar alto demais.

“10 Segundos para Vencer” consegue isso com o trabalho de Daniel de Oliveira, admirável na dose de explosão e contenção, além da construção física do personagem. Ao lado dele, o imenso Osmar Prado dá vida ao papel difícil e fundamental do pai e treinador, Kid Jofre. Seus excessos aparecem somente no uso frequente do cigarro como recurso dramático, vício persistente no cinema.

O conjunto de qualidades só destoa por apagar o contexto político, impedindo ver em que medida o atletismo propaga valores oficiais e revela aspectos da sociedade brasileira que parte do público tenta ignorar.

Salvo uma breve referência à recusa de Jofre de deixar sua vitória ser apropriada pelo “excelentíssimo” general Médici no auge de seu sinistro governo, o retrato do boxeador parece desconectado da realidade, como se ele só tivesse vencido no terreno da imaginação.

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