Paris se dá por satisfeita por ter a Hermès como guardiã da elegância francesa vinculada à selaria, mas Milão, que é vitrine dos acessórios de couro luxuosos da Europa, divide o trono de sua manufatura artesanal com duas coroas que recentemente passaram por um lifting rejuvenescedor.
Tod’s, 42, e Bottega Veneta, 53, fizeram dançar as cadeiras da chefia criativa para criar armários mais conectados à elegância contemporânea e menos sustentados em bolsas e sapatos tradicionais. Na manhã desta sexta (22), na semana de moda de Milão, ambas colocaram na passarela seus mandamentos de elegância.
Quando a Tod’s abriu o dia no Pavilhão de Arte Contemporânea, uniu seu legado de couro ao mote geral desta temporada de moda em transformar dias belicosos em leveza. Cores lavadas, como o bege e o rosa, apareceram apenas como pinceladas na cartela de branco e preto.
A grife saiu do convencional ao mesclar texturas numa mesma peça, como nos casacos amplos de cashmere e couro, combinados à alfaiataria esportiva.
A matéria-prima básica da marca recebeu verniz, que dava um aspecto de plástico brilhante às roupas e aos acessórios, que também foram combinados a tricôs estampados com palmeiras imperiais, único detalhe ensolarado de uma coleção essencialmente invernal.
Há um tom de militarismo nos coletes utilitários, cheios de bolsos e zíperes, finalizados com colares de correntes pesadas e douradas. Pintas de onça, a padronagem da vez nesta temporada milanesa, tingiram casacos, botas de cano alto e um dos inúmeros modelos de bolsas desfilados.
Famosa pelos mocassins, a grife pôs no desfile um repertório imenso de bolsas com diferentes tamanhos, do micro com corrente dourada até os modelos do tipo envelope usados a tiracolo e sempre carregados em par com outra peça menor.
Esse jogo de pesos e volumes norteou a estreia do estilista Daniel Lee na direção criativa da Bottega Veneta, grife que popularizou na moda o tecido de couro trançado.
A técnica foi usada com parcimônia na estufa montada no Arco da Paz, uma região bucólica de Milão que foi pano de fundo para a coleção repleta de calças masculinas texturizadas e peças assimétricas, com rasgos estratégicos pelo tronco.
Trenchcoats vazados e vestidos com decote ondulado foram algumas das novidades implementadas por Lee no portfólio da etiqueta, talvez a mais minimalista de toda a costura majoritariamente barroca da Itália.
Neste inverno 2020 a Bottega envereda por um guarda-roupa arquitetônico, em que linhas e curvas são pensadas para construir modelagens complexas, em certos momentos com usabilidade até difícil demais de entender.
O conjunto da obra, porém, denota a vontade do novo estilista em atender um público fashionista, que deve aderir aos cintos e às bolsas finalizadas com penduricalhos que lembram balas.
Combinadas aos coturnos de couro e à alfaiataria bem cortada do estilista, as peças transmitem uma rigidez contrastante com os decotes e o brilho das peças tingidas de lavanda, laranja e azul, as únicas cores para além da escala P&B usada pelo designer.
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