É o “Exército do amor.” Foi assim que Patricia Viera, uma designer com fama entre abastados da sociedade carioca, definiu a militar forrada de insígnias que cruzou a passarela na São Paulo Fashion Week nesta terça (23).
O tema que ela disse ter levado ao desfile é o próprio Brasil. Mas em tempos belicosos, nos quais os próprios estilistas parecem viajar para longe e fugir dos problemas, o país assume múltiplas facetas.
Ela até tentou mostrar mosaicos de couro, sua especialidade, como forma de estampar a diversidade. Mas a vontade de gritar parece ter soado mais alto do que a tesoura.
A impressão geral nesses dois dias de semana de moda é que as grifes estão escapando do Brasil, mas dizendo que a ideia é exaltar o país.
Fabiana Milazzo, por exemplo, escolheu um brasileiro para homenagear, mas um bem internacional: o artista plástico Vik Muniz, particularmente querido nos Estados Unidos.
Dos trabalhos em arame de Muniz, como a tela “Biografia Parte II”, partiram os bordados em camisas de algodão orgânico. Do quadro “Color Tears”, saíram os vestidos de canutilho, nos quais é difícil diferenciar o que é estampa e o que são franjas aplicadas.
Quem viajou também, no que chamou de “busca espiritual”, foram as estilistas Lily e Renata Sarti, da Lily Sarti. O “mosaico étnico” da dupla é daquelas coleções de crochê e tecido de algodão para garotas arteiras do circuito Coachella-Índia-Nova York.
Esse Brasil tipo exportação que viaja o mundo começou já na segunda-feira (22), quando Reinaldo Lourenço abriu a temporada com um estudo sobre Miami, refúgio tanto de suas clientes quanto das de Milazzo, Viera ou Lenny Niemeyer, que abriu o segundo dia de desfiles.
A moda praia da designer é uma das melhores do país. Embora afeita aos signos do tropicalismo, ela também abraça a estética da turma cool das artes, mas faz com destreza ao colocar sua coleção no mesmo plano da obra de Ernesto Neto, cujas instalações estão expostas na Pinacoteca e foram cenário para o desfile.
Ela prioriza a complexidade, trocando a lycra por tricô e seda, materiais que encaram, no máximo, o
cloro da piscina do resort.
Os primeiros dias reproduziram um extrato de brasilidade que bate continência para o estilo de vida americano e faz a cabeça da ala mais abastada do calendário da SPFW.
Um Brasil de “jet setters”, refugiados em suas próprias bolhas de glamour e que idealizam um país colorido, chique, mas esquálido e faminto por debaixo dos panos.
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