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Cinema

Entrecho amoroso extrai parte da força do trunfo de 'Legalidade', a trama política

Período logo após renúncia de Jânio e antes do golpe militar é o pano de fundo do filme

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Legalidade

  • Quando Estreia nesta quinta (12)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Leonardo Machado, Cleo Pires, Fernando Alves Pinto, José Henrique Ligabue e Leticia Sabatella
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção Zeca Brito

Em agosto de 1961, apenas sete meses depois de tomar posse, Jânio Quadros renunciou à Presidência da República. 

A Constituição indicava um só caminho: o vice, João Goulart, deveria assumir o cargo. Mas os ministros militares estavam realmente dispostos a impedir a posse dele. Para eles, Jango representava uma “ameaça comunista”, alegação usada com frequência pelos setores mais conservadores para justificar ações autoritárias ao longo da história republicana do Brasil.

No Rio Grande do Sul, o governador e líder trabalhista Leonel Brizola (1922-2004) comandou um movimento de resistência, amparado no que se chamou de “cadeia da legalidade”, uma rede de emissoras de rádio que transmitiam seus discursos. Além de compartilhar as ideias de Jango, Brizola era cunhado do então vice.

É esse o momento histórico retratado por “Legalidade”, dirigido pelo gaúcho Zeca Brito.

Os acontecimentos políticos de 1961 são ricos em tensão, com uma variedade de protagonistas interessantes. Além disso, é um período ainda pouco explorado pelo cinema.

No entanto, na concepção do cineasta, a trama política não bastava —é esse é o problema de “Legalidade”. O filme une a movimentação de Brizola (Leonardo Machado) e seus aliados, baseada em fatos reais, e ficcionais desencontros amorosos com personagens que circundam o poder.

Há um triângulo afetivo formado por uma brasileira que vive nos EUA (Cleo Pires), um jornalista de Porto Alegre (José Henrique Ligabue) e o irmão dele, um antropólogo (Fernando Alves Pinto). 

Apesar do empenho dos atores, esse vai-e-vem de paixões e ressentimentos não se equipara em voltagem emocional ao que se passa dentro do Palácio Piratini, a sede do governo gaúcho. Mais do que isso, o entrecho amoroso extrai parte da força do que é o trunfo de “Legalidade”, a trama política.

Esse arranjo malsucedido não impede, porém, que o público acompanhe ótima performance de Leonardo Machado no papel de Brizola. Como fazia o político gaúcho, os discursos no filme têm um ritmo particular, marcados por instantes de ênfase e pausas calculadas. Uma pena que o ator tenha morrido em setembro de 2018, depois das filmagens. Foi vítima de um câncer no fígado.

Em suma, “Legalidade” ganha valor num momento em que pipocam questionamentos sobre o valor da democracia. Mas poderia voar bem mais alto, não fossem as amarras da cartilha romântica. 

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