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'The New Pope' prefere espetáculo farsesco a debates sobre teologia

Série, que retoma 'The Young Pope', opõe Jude Law a John Malkovich em diálogos cheios de ironia

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São Paulo

The New Pope

  • Quando Sextas, às 22h30
  • Onde Fox Premium 1
  • Elenco Jude Law, John Malkovich, Silvio Orlando
  • Direção Paolo Sorrentino

Em 2016, dois anos depois de seu “A Grande Beleza” vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro, o diretor italiano Paolo Sorrentino se aventurou por um gênero, até então, inédito para ele, o das séries.

O resultado foi “The Young Pope”, ou o jovem papa, a história de Lenny Belardo, papel de Jude Law, um cardeal americano na casa dos 40 anos, subitamente eleito chefe da Igreja Católica.

Belardo adota o nome de Pio 13, sinalizando que irá se voltar mais à fé do que aos assuntos mundanos. Não faz questão de ser popular. Ao contrário de seus antecessores, não viaja pelo mundo, proíbe que se vendam lembrancinhas adornadas com sua figura e fala de costas à multidão aglomerada na praça de São Pedro.

O jovem papa vive atormentado por fantasmas do passado, mas seu maior problema é a crescente oposição da Cúria. No entanto, seus inimigos não têm tempo de agir. No último episódio, Pio 13 cai fulminado por um ataque cardíaco.

Pouco mais de três anos depois, chega “The New Pope”, ou o novo papa, que não é bem uma segunda temporada, tampouco uma outra série. A premissa é interessante —Pio 13, na verdade, não morreu. Está em coma há nove meses e sobreviveu a três transplantes fracassados de coração.

Isso lhe dá fama de santo, e a popularidade que jamais teve.

Mas a Igreja segue sem comando, e o secretário-geral do Vaticano, o cardeal Angelo Voiello, vivido por Silvio Orlando, convoca um conclave para eleger um novo pontífice. Se tudo correr bem, ele mesmo. Ambientadas na Capela Sistina, as cenas do conclave dão o pretexto para Sorrentino exercer sua exuberância visual.

Tido por alguns como um sucessor de Fellini, o diretor abusa das fisionomias excêntricas, dos ângulos inusitados e da música pop. O efeito é lisérgico, oposto ao sóbrio realismo que Fernando Meirelles alcançou com uma sequência semelhante em “Dois Papas”.

Humor é algo que não falta ao primeiro episódio de “The New Pope”. O roteiro se inspira em fatos históricos, como a convivência entre Bento 16 e Francisco, ou a morte repentina de João Paulo 1º, que ficou só 33 dias no cargo. Mas o criador da série não está interessado em discutir teologia, muito menos o papel da Igreja Católica. Prefere encenar um espetáculo farsesco e rechear os diálogos de ironia, sem se aprofundar em nada.

O capítulo de estreia não passa de um esquenta para o que vem por aí. A espinha dorsal de “The New Pope” é o conflito, já anunciado pelo trailer, entre o radical Pio 13 e seu sucessor João Paulo 3º, um moderado interpretado por John Malkovich.

Antes de virar papa, o personagem nem sequer era cardeal, e sim sir John Brannox, um aristocrata famoso por converter anglicanos ao catolicismo —as regras eclesiásticas permitem que leigos sejam eleitos pontífices.

A crítica internacional diz que Malkovich está divertidíssimo no papel. Nos próximos episódios, João Paulo 3º usará seu poder para conhecer pessoalmente seus ídolos Marilyn Manson e Sharon Stone. Sorrentino finge criticar o mundo das celebridades, uma de suas obsessões recorrentes, mas, na verdade, se esbalda nele.

Pelo que se viu até agora, “The New Pope” é uma mistura de sitcoms de escritório, como “The Office”, com “O Poderoso Chefão”. A iconografia católica acaba sendo só uma embalagem luxuosa. Não vai provocar grandes discussões, mas é entretenimento de primeira linha.

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