Margaret Thatcher, papel de Gillian Anderson, é uma dama de ferro em "The Crown". A quarta temporada, que estreia neste domingo (15) e já foi vista pelo UOL, nos apresenta à primeira-ministra —cuja frieza consegue fazer até a rainha Elizabeth, papel de Olivia Colman, parecer uma ativista de direitos humanos.
Eu sei, é difícil imaginar um cenário em que a rainha seja o lado mais humano de uma discussão, mas este é o poder de Thatcher.
As diferenças entre elas ficam explosivas em alguns episódios, principalmente quando a rainha e líderes de nações amigas se incomodam com o apartheid e tentam pressionar a África do Sul com sanções econômicas, uma tentativa de dar um fim à segregação racial. Thatcher se opõe à ideia.
A partir daí, há uma queda de braço. Segundo uma notícia de 1986 da agência britânica Reuters, houve mesmo um desentendimento entre Elizabeth e Thatcher na vida real. Na época, cinco jornais publicaram (com fontes anônimas e próximas à rainha) textos que pressionavam a primeira-ministra.
O UOL teve a oportunidade de conversar com Gillian Anderson, a intérprete de Thatcher. Na série, a atriz fica quase irreconhecível por usar um tom de voz muito diferente do seu próprio e, é claro, o famoso penteado da ministra.
A transformação de Gillian Anderson em Thatcher está em seus trejeitos, na voz e na forma como mostra os dentes quando fala (para se parecer com a ministra). Será que foi fácil interpretar uma pessoa odiada por tantos?
"Eu não tinha pensado nisso de ser odiada! Mas a série dá uma visão bem completa sobre esses personagens. Vemos um aspecto de Thatcher e da rainha que não tínhamos visto antes", diz Anderson. Você vê mais da Thatcher em sua carreira, Thatcher mãe, Thatcher mulher... E vemos também mais da própria rainha como mãe."
O trabalho de Anderson é excelente, mas realmente é difícil simpatizar com Thatcher. O grande desafio da atriz foi tentar se conectar com uma personalidade histórica que foi vista como vilã por muita gente e não costumava despertar bons sentimentos no povo.
"Uma coisa que aprendi sobre personagens históricos é que nós precisamos deixar nossas opiniões de fora e começar do zero em termos de pesquisa, deixando de lado os preconceitos. Senão, isso tudo entra no caminho das escolhas que você toma."
Num episódio, Thatcher é convidada para se divertir com a rainha em um jogo e, depois, sair para caçar. Ela até vai, mas mostra total falta de entusiasmo pelas brincadeiras. A ministra acha que deveria gastar aquele tempo trabalhando, não socializando com a realeza que não entende.
Na vida real, Thatcher foi mesmo uma workaholic —segundo a BBC, ela dormia cerca de quatro horas por noite. Ou seja, "The Crown" acerta ao a retratar como alguém que vê o lazer como inútil, mas a série não é sempre um documento histórico 100% fiel (e não tem intenção de ser).
Essa é uma série de televisão, então há uma quantidade de licenças criativas que precisam ser tomadas para criar entretenimento e drama, por mais corretas que as pesquisas sejam sobre a história. Se algum membro vivo da família real assistir à série, espero que consiga aceitar isso.
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