Descrição de chapéu Artes Cênicas

Profissionais da cultura ocupam teatros franceses em protesto à crise do setor

Trabalhadores da área se sentem desamparados pelo governo da França em meio à pandemia da Covid-19

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Paris | AFP

Uma grande faixa com a frase "cultura sacrificada" estampada decora a fachada do teatro Odéon, em Paris, ocupado desde 4 de março por profissionais do setor de entretenimento. A ação é para denunciar a difícil situação vivida pelo setor francês durante a pandemia.

Poltronas, telões e cortinas em cinemas e teatros acumulam poeira desde novembro do ano passado. O setor teve apenas cinco meses de atividade após o lockdown da primavera, antes das novas restrições do outono.

Um ano depois das primeiras medidas do governo francês contra a pandemia, artistas, técnicos e funcionários da cultura ocupam o Odéon, um dos seis teatros nacionais do país e localizado próximo aos Jardins de Luxemburgo, na margem esquerda do rio Sena, para reivindicar direitos trabalhistas.

Homem jovem negro grita palavras de ordem em frente à faixa
Um manifestante em frente ao Teatro Odéon, em Paris, na França, em 9 de março de 2021 - Thomas Coex/AFP

"Permitem viajar de trem num espaço minúsculo, mas nos impedem de trabalhar", reclama à AFP um dos manifestantes do teatro, o dramaturgo Emmanuel Meirieu.

As duas principais reivindicações dos manifestantes são a criação de um calendário para a reabertura dos espaços culturais e um "ano em branco" da lei trabalhista que regulamenta as contribuições dos trabalhadores do setor.

Na França, artistas e profissionais do entretenimento precisam trabalhar 507 horas por ano para receber seguro-desemprego para complementar seu salário.

O governo francês decretou em maio de 2020 um "ano em branco" —que terminará no final de agosto— para estender o auxílio a esses trabalhadores.

"Não estamos pedindo um favor, lutamos por todos os trabalhadores precários", como os da hotelaria e do turismo, também desempregados pelas restrições, explica Meirieu.

"Pedimos um ano em branco para todos", acrescenta uma manifestante do teatro, a cineasta Val Massadian.

Nesta semana, outros três teatros foram ocupados na França pelas mesmas reivindicações.

De acordo com um estudo publicado em novembro pelo Ministério da Cultura francês, o setor reagrupa 670 mil trabalhadores no país e produz € 47 bilhões (R$ 326 bilhões), 2,3% da economia.

"Ensaios entre 14h e 23h, não entre na sala", diz um cartaz no hall do teatro.

Enquanto os manifestantes realizam assembleias e manifestações, o Odéon segue vivo e uma companhia externa ao movimento prepara uma peça dramática no salão principal.

Poucas pessoas sentadas em cadeiras de teatro
Teatro Odéon, em Paris, na França, em 10 de março de 2021 - Loic Venance/AFP

E, quando os ensaios terminam, os manifestantes do Odéon sobem ao palco com seus sacos de dormir e cobertores no chão. "Durmo muito bem", diz Meirieu.

Com palcos lustrosos e escadarias de mármore, o teatro, inaugurado pela rainha Maria Antonieta em 1782, mostra toda a sua beleza nas noites de apresentação, mas para o dia a dia de uma ocupação não é muito prático. "Existem correntes de ar e só há um chuveiro", diz Pierre, outro dos manifestantes.

No entanto, não é a primeira vez que o Odéon se torna um local de protesto. Já foi um dos símbolos da manifestação de maio de 1968 em Paris, quando se transformou num espaço de reflexão política, e de novo em 2016, contra uma polêmica reforma trabalhista.

"Acima de tudo, é uma instituição pública, paga pelo povo", diz Emmanuel Meirieu.

Segundo Leandro, um jovem pianista de tango, ocupar o prédio permite "dar visibilidade a outras lutas, não só as do setor cultural".

Todos os dias uma ágora é organizada fora do teatro, onde outros grupos de trabalhadores, como comissários de bordo ou funcionários da companhia de viagens expressam suas reivindicações.

"Estamos mandando uma mensagem do Odéon. Ocupem, defendam os serviços públicos", diz Meirieu enfaticamente.

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