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Podcast analisa como cultura pop formou mundo LGBTQIA+

Apresentado pela drag Kate Butch, Queers Gone By diverte, mas se perde em assuntos paralelos que devem cansar ouvinte

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Queers Gone By

  • Onde Disponível nas plataformas de streaming
  • Idioma Inglês
  • Criação Caitlin Powell e Kate Butch

Habituadas com a comédia, as drag queens encontraram terreno fértil na atual onda de podcasts que invadiu as plataformas de streaming. De competidoras de RuPaul’s Drag Race a performers nacionais, são várias as rainhas que criaram programas para falar de assuntos do mundo LGBTQIA+.

Diante de tanta oferta, é fácil cair no marasmo. Talvez por isso Queers Gone By logo chame atenção —sua premissa é original, criativa e bastante pertinente para qualquer pessoa representada pela bandeira do arco-íris.

Lançado em 2019, o podcast é apresentado pela drag queen britânica Kate Butch —uma brincadeira com o nome da cantora Kate Bush e a palavra inglesa para “machão”— e a comediante bissexual Caitlin Powell. Nesta semana, elas chegaram ao episódio de número cem, então já há bastante material disponível para quem quiser conhecer Queers Gone By.

As apresentadoras do podcast "Queers Gone By", Kate Butch e Caitlin Powell, em montagem com cena do filme "Abracadabra"
As apresentadoras do podcast "Queers Gone By", Kate Butch e Caitlin Powell, em montagem com cena do filme "Abracadabra" - Reprodução

Toda semana, as duas escolhem um filme, série, personagem ou qualquer outro elemento da cultura pop para analisar e decidir se ele contribuiu, de alguma forma, para a “formação” LGBTQIA+ delas e de milhares de outras pessoas. Há desde obviedades, como a série “Glee” —é fato notório que ela ajudou muita gente a sair do armário—, até títulos que devem causar estranheza, como “Art Attack”, programa da Disney que ensinava as crianças a fazer arte.

Muitos LGBTs certamente vão se deliciar com as conversas de Kate e Caitlin, já que ambas dissecam lenta e detalhadamente os elementos dessas obras a fim de encontrar códigos pró-diversidade nas entrelinhas, ou então de identificar elementos fortes do imaginário gay que estão presentes em filmes e séries que jamais pretenderam fazer um aceno a essa comunidade.

É o caso do episódio que versa sobre “O Diabo Veste Prada”, por exemplo. Além de falar sobre moda e o universo feminino, o filme ainda tem uma diva da vida real, Meryl Streep, no papel daquela que se tornou uma diva da ficção, a carrasca Miranda Priestly. Ou então de “High School Musical”, um musical centrado num romance meio bestinha, mas que tem como um de seus pontos altos a popstar fabulosa Sharpay.

Essas leituras envolvem alguns clichês, é verdade, mas a graça é justamente notar como alguns estereótipos de fato fazem sentido —e tudo bem.

São vários os episódios que apelam à nostalgia. Alguns são bem específicos para os britânicos, é verdade, mas outros debatem fenômenos tão mundiais que devem entreter até quem não é LGBT. Naquele destinado a “Shrek”, por exemplo, algumas cenas não muito importantes da animação logo ganham significados muito mais geniais e mirabolantes.

As apresentadoras dizem que se identificavam com o universo do ogro da Dreamworks porque o filme seminal, afinal de contas, falava sobre como as criaturas de contos de fadas eram perseguidas e rotuladas como aberrações. Elas chegam a alçar o Lobo Mau ao papel de ícone não binário, enquanto o fato de Pinóquio admitir que usa roupa íntima feminina também é motivo para especulação.

Essa mistura de nostalgia, humor e teorias da conspiração é muito divertida, mas acaba falhando por causa da maneira como o podcast é conduzido. Há um quê de amadorismo nos episódios, que são bem mais longos do que deveriam simplesmente porque as apresentadoras, com frequência, se perdem nas conversas paralelas e em piadas internas.

Para quem ainda não mergulhou de cabeça em Queers Gone By e, portanto, não está tão envolvido com Kate Butch e Caitlin Powell, pode ser difícil encontrar forças para escutar mais de um capítulo do programa.

A ausência de um roteiro se junta a alguns problemas técnicos que também devem afastar parte dos ouvintes. O volume dos episódios oscila muito e com frequência o público vai precisar diminuir o som ao ser metralhado pelos gritos e risadas altíssimas das apresentadoras.

Queers Gone By parte de uma ideia fantástica, mas muito mal aproveitada pela dupla. Uma reformulação do programa certamente cairia bem e quem sabe até o ajudaria a alçar voo para além do público LGBTQIA+ —até porque a curadoria de temas é ótima.​

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