Brasil domina lista de fundo para filmes de países em risco de apagão cultural

País aparece entre apoiados de órgão sueco ao lado de lugares com fraca tradição democrática, como Sudão e Ucrânia

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Cannes (França)

Depois das declarações de protesto na entrevista coletiva do júri e em sessões de filmes brasileiros em Cannes, a situação política do país volta a ser assunto para os participantes do festival francês.

Em anúncio feito neste sábado (10), o filme brasileiro “Regra 34”, de Julia Murat, foi escolhido pela comissão do Fundo Audiovisual de Gotemburgo, na Suécia, para receber um aporte de Є 35 mil (aproximadamente R$ 215 mil).

O fundo, lançado em maio pelo Festival Internacional de Cinema de Gotemburgo, é uma iniciativa do governo sueco para defesa da democracia pelo mundo e foi direcionado a quatro territórios onde o governo do país nórdico acredita que a cultura está em risco por questões políticas.

Retrato de mulher branca que repousa rosto sob mão direita
A diretora Julia Murat em pré-estreia do filme 'A memória que me contam', no Reserva Cultural, em 2013 - Zanone Fraissat /Folhapress

O Brasil aparece na lista ao lado de países com cinematografia incipiente e fraca tradição democrática, como o Sudão e a Ucrânia, além do apoio ao cinema curdo, feito pela minoria étnica que vive espalhada por Irã, Iraque, Síria e Turquia.

O fundo recebeu mais de mil inscrições, das quais 75% vieram do Brasil. Foram 600 projetos procurando financiamento para desenvolvimento e outros 145 em busca de recursos de pós-produção, ou seja, são filmes já rodados que aguardam finalização de som e imagem.

“As inscrições foram quatro vezes maiores do que esperávamos. O simples fato de termos recebido essa quantidade de projetos do Brasil é assolador e diz muito sobre a situação atual do país”, disse Camilla Larsson, administradora do fundo.

Tatiana Leite, produtora do filme, recebeu a notícia incrédula. “Nós conseguimos financiar o filme antes da entrada desse governo, mas agora seria impossível para nós finalizar o projeto, já que todos os recursos não só para audiovisual mas para cultura em geral estão suspensos no Brasil.”

Em entrevista, Jonas Holmberg, diretor artístico do Festival de Gotemburgo, disse que “a crise política e a paralisação da indústria de cinema no Brasil chegou num momento em que o cinema brasileiro estava talvez mais interessante do que nunca”.

“Regra 34”, rodado no ano passado e paralisado pela falta de recursos para finalização, é o terceiro longa de Julia Murat, cineasta que teve seus filmes anteriores exibidos nos maiores festivais do mundo como Veneza, Toronto e Berlim.

“Fico feliz que o festival de Gotemburgo pode ajudar alguns desses cineastas tão talentosos do país e preencher, ainda que minimamente, essa lacuna de financiamento enquanto um futuro melhor não chega”, completa Holmberg.

O fundo prevê para setembro o anúncio de mais alguns selecionados na linha de finalização e os projetos que receberão suporte para desenvolvimento.

Número de projetos recebidos por país

Brasil
Pós-produção: 145
Desenvolvimento: 600

Sudão
Pós-produção: 2
Desenvolvimento: 75

Ucrânia
Pós-produção: 20
Desenvolvimento: 70

Cinema curdo
Pós-produção: 25
Desenvolvimento: 65

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