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Julia Murat fala sobre seu primeiro longa de ficção
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ANA ELISA FARIA
DE SÃO PAULO
Após circular por festivais na França, na Itália, na Colômbia, no Canadá e no Brasil, o longa "Histórias que Só Existem Quando Lembradas", estreia de Julia Murat, 32, na ficção, chegou ao circuito comercial de São Paulo na última sexta-feira (6).
Filha da experiente cineasta Lucia Murat ("Uma Longa Viagem" ), a diretora observa no filme o cotidiano pacato dos moradores da cidade fictícia de Jotuomba, especialmente o de Madalena, responsável por fazer o pão no vilarejo de idosos onde ninguém morre há algum tempo.
A vida da senhora, que passa boa parte dos dias lembrando de seu marido morto, é chacoalhada quando Rita, uma jovem fotógrafa, chega ao local cheia de questionamentos.
Julia conta que a ideia central da história surgiu em 1999 e, no decorrer dos anos, foi se modificando. "Eu estava trabalhando em Mato Grosso do Sul e conheci uma vila em que o cemitério local estava fechado. Se alguém morresse, tinha de ser enterrado numa cidade a sete horas de distância", diz.
LEIA, ABAIXO, A ÍNTEGRA DO BATE-PAPO COM A DIRETORA:
Divulgação | ||
Após ser exibido em festivais, o filme "Histórias que Só Existem Quando Lembradas", de Julia Murat, estreou em SP na sexta (6) |
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sãopaulo - Qual foi a inspiração para o filme?
Julia Murat - Tive a ideia em 1999, quando estava trabalhando em Mato Grosso do Sul e conheci uma vila em que o cemitério local estava fechado. Se alguém morresse, tinha de ser enterrado numa cidade a sete horas de distância. Achei essa situação muito fascinante e naquele momento brinquei que queria fazer um filme sobre uma senhora que não podia ser enterrada na própria terra. Entre a ideia e o primeiro corte do filme passaram-se 12 anos. Então, a história foi se modificando.
De onde vem o nome do longa?
Era uma citação que fazia parte de um diálogo, em que um personagem falava para a Rita "tem coisas que só existem quando lembradas" e ela respondia com "outras a gente só vê com os olhos fechados". Depois disso, eles dançavam com os olhos fechados. Era uma situação que existia e que caiu do filme, mas que dava um tom fabular à história. Então, quando a cena foi cortada na montagem, resolvi colocar a frase no título.
Que mensagem seu filme traz?
Acho que são várias. Quando comecei a escrever a história queria falar sobre a possibilidade da morte como algo libertário. Aquela ideia de que você pode escolher a morte como uma opção de vida. Mas, no processo de maturação do filme, essa ideia foi ficando de lado e comecei a me interessar mais pela relação entre os personagens, especialmente a das protagonistas. No fundo, as principais questões do filme estão ligadas a esse encontro [entre as personagens Madalena e Rita] e a ideia da tradição.
O filme já foi exibido em inúmeros festivais. Qual a sua expectativa para a estreia no circuito comercial?
É muito diferente a sensação do filme passar em festivais internacionais e no Brasil, assim como entrar em cartaz lá fora e aqui. O filme estreou também nos Estados Unidos, na Polônia e na Holanda. Mas, claro, estou com uma expectativa maior em relação ao Brasil. É inevitável. Acho que é um país que vai olhar para o filme com um tom diferente que uma obra estrangeira traz. Assim como quando você olha para um filme de outro local e aumenta o interesse sobre o outro. No caso, o Brasil vai olhar com interesse para a própria história, para os próprios personagens. Isso muda um pouco a relação com o filme.
Como aconteceu a coprodução com Argentina e França?
Com a Argentina surgiu porque em 2006 eu ganhei uma bolsa para um curso de roteiros em Madri junto com outros 20 latino-americanos e espanhóis. Tínhamos consultores e, dentre essas pessoas, conheci a argentina Julia Solomonoff, que topou produzir o filme. A união com a França surgiu quando o Christian Boudier, que também assina a produção, apresentou o projeto em Toronto, no Canadá, para a Marie-Pierre Macia e para a Juliette Lepoutre. Ambas gostaram muito e resolveram entram no filme, pois estavam procurando projetos de novos realizadores.
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