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Caetano Veloso faz show tecnicamente impecável, mas gelado em Bruxelas

Músico desfiou 22 músicas, com voz límpida e segura, mas interagiu pouco com público

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Bruxelas

"Fazia dois anos que eu não cantava em frente ao público. E aqui ainda está mais bonito, porque está todo mundo sem máscara", disse Caetano Veloso no encerramento de seu show em Bruxelas nesta segunda à noite.

O espetáculo na capital belga, a terceira cidade visitada pelo músico brasileiro nesta turnê europeia, foi a céu aberto, o que permitiu dispensar o equipamento de proteção. O músico brasileiro, porém, se esqueceu de descobrir o rosto antes de entrar no palco, pouco depois das nove da noite, no horário local. "Eu quase ia cantando de máscara. Isso tudo [a pandemia] mexe com a nossa cabeça. Mas a gente há de vencer", afirmou.

Em frente a um fundo preto com uma grande bola azul, Caetano Veloso toca violão e canta em um microfone, vestindo uma camisa metade preta, metade bege
Caetano Veloso se apresenta na internet em show de Natal - Reprodução - 19.dez.2020

Sozinho com seu violão, destacado por luzes brancas contra um fundo negro, Caetano, de 79 anos, fez um espetáculo musicalmente excelente. A boa acústica e a engenharia de som valorizaram um Caetano de voz muito clara e segura durante todas as 22 músicas que ele interpretou, quase sem pausas, em 90 minutos de show.

A atmosfera, porém, passou longe da "verdadeira festa tropical" prometida pela divulgação do espetáculo e se manteve quase sempre tão fria quanto a noite de verão belga, em que os 16 graus do termômetro perdiam mais dois por causa do vento gelado.

O público de todas as idades e bastante internacional —flamengo, francês e inglês eram idiomas mais ouvidos nas conversas que o português— não acompanhava em peso as canções, nem mesmo nas três vezes em que Caetano estimulou sua participação, em "Cajuína", "Desde que o Samba É Samba" e "Terra".

Não que faltassem manifestações de fãs brasileiros mais animados, mas elas acabavam se diluindo no espaço aberto e nos espaços vazios das fileiras de assentos —o show de Bruxelas foi o único que não esgotou a lotação, dos 11 da turnê.

O próprio Caetano, embora parecesse bem disposto, deu pouca corda aos espectadores. Seguindo uma lista de canções praticamente idêntica à do show em Paris, no sábado, enfileirou sem respiros 13 músicas nos primeiros 45 minutos de apresentação.

Abriu com "Milagres do Povo" e engatou sucessos como "Menino do Rio", "Luz do Sol" e "Janelas Abertas Nº 2 (Você É Linda)", além de "Muito Romântico" e "Coração Vagabundo".

Houve quem tentasse puxar um coro de palmas para marcar o ritmo de "Tigresa" e manifestações mais acaloradas em "Gente" —após o verso "gente é pra brilhar/ não pra morrer de fome"—, mas a maioria do público não seguiu a empolgação.

Caetano Veloso em show no vale do Anhangabaú, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Durante a canção "Um Índio", tema politicamente em evidência após protestos indígenas em Brasília contra mudança nas leis de demarcações de terras, houve um grito isolado contra o governo.

"Trilhos Urbanos" (com assobios afinados), "O Ciúme" e "Branquinha" entraram também nesse primeiro bloco compacto. Faltavam quatro minutos para as dez da noite quando Caetano disse a primeira frase mais pessoal do show —anunciou que a próxima música seria para uma menininha que havia visto na cidade durante a tarde.

Veio então "Sampa", e a criança apareceu no palco, mas apenas ao final da canção Caetano pareceu notar sua presença; chamou-a para perto, perguntou seu nome —Rafaela— e a convidou a cantar o que quisesse —a garota escolheu "Tigresa".

Duas músicas depois, o músico lamentou ter mexido no microfone, o que afetou o até então impecável equilíbrio do som.

Mais curto e um pouco mais descontraído, esse segundo bloco prosseguiu com "Tonada de Luna Llena" —balada da lua cheia—, de Simón Diaz, que Caetano sustentou a capela e descreveu como uma "lindíssima canção venezuelana, a única do show que não é minha".

Embora estivesse claro que boa parte do público não era brasileira —"muita gente não entende português", disse ele no final—, o repertório de Bruxelas não incluiu nenhuma obra francesa, como em Paris, onde entraram trechos de “Tu T’Laisses Aller” —te deixas ir—, de Charles Aznavour, e “Dans Mon Île” —na minha ilha—, de Henri Salvador.

Caetano disse que não sabia falar flamengo e tentaria dizer algo em francês, mas não passou de "merci" —obrigado.

As três músicas seguintes —"Desde que o Samba É Samba", "O Leãozinho" e "Terra"— foram num crescendo que terminou com o público em pé, dançando e batendo palmas ao ritmo de "Reconvexo", enquanto Caetano arriscava alguns passos do samba de roda.

Aplausos e dancinha foram de novo mais chochos e breves que os da abertura da turnê em Hamburgo, na Alemanha, da mesma forma que o coro de "fora, Bolsonaro!" do público foi menos efusivo e mais breve que o do show em Paris —de alguns minutos, na capital francesa, para poucos segundos em Bruxelas.

Caetano tem ainda sete apresentações marcadas em Portugal ---quatro em Lisboa, duas no Porto e uma em Guarda, no leste do país— antes de deixar a Europa. No Brasil, ele deve se apresentar em novembro, no festival Rock the Mountain, realizado em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro.

O músico deve lançar novo álbum com faixas inéditas neste ano, informou a gravadora Sony na semana passada.

O que Caetano cantou em Bruxelas

  • "Milagres do Povo"
  • "Menino do Rio"
  • "Muito Romântico"
  • "Coração Vagabundo"
  • "Tigresa"
  • "Luz do Sol"
  • "Trilhos Urbanos"
  • "Um Índio"
  • "Cajuína"
  • "O Ciúme"
  • "Branquinha"
  • "Janelas Abertas nº 2 (Você É Linda)"
  • "Gente"
  • "Sampa"
  • "Tonada de Luna Llena"
  • "Desde que o Samba é Samba"
  • "O Leãozinho"
  • "Terra"
  • "Reconvexo"

Primeiro bis

  • "Qualquer Coisa"
  • "Luz de Tieta"

Segundo bis

  • "Odara"
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