Descrição de chapéu Afrofuturismo já

Cultura africana enriquece hoje a moda brasileira

Por muito tempo ignoradas, contribuições de africanos à cultura nacional são revistas

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No tempo colonial, tecidos feitos por mãos de desterrados escravizados eram usados na confecção de vários itens, de redes a velas de barco e, sobretudo, roupas.

Contribuições da África à tecelagem dominaram até o advento da indústria têxtil, explica Henrique Cunha Júnior, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em tecnologias africanas. “O manejo de linho e algodão vem desde as civilizações do Vale do Nilo, do Antigo Egito. Antes do século 16, africanos foram grandes produtores de tecidos, exportando até para a Europa.”

Com a chegada de africanos às Américas, inovações foram inseridas na indumentária brasileira. Hoje, tecidos da África têm espaço na moda nacional.

É o que mostram as criações das estilistas africanas Angela Brito e Saturnina da Costa, radicadas no Brasil.

Por muito tempo ignoradas, contribuições de africanos à cultura nacional são revistas agora, diz Leandro Bulhões, professor de história da UFC. “Reconhecemos a complexidade do passado e luzes são lançadas sobre o presente.”

O termo diáspora se refere à dispersão em massa de um povo. “Além do tráfico negreiro, há uma leva grande de africanos que saem do continente na segunda metade do século 20. O povo africano está nesse movimento de trânsito há muito tempo”, afirma Bulhões.

Há 26 anos no Rio, Angela Brito exibe influências de sua origem cabo-verdiana. Na infância, observava tias e avós com camisas fechadas e saias longas de grossas camadas, as “suladas”.

Nas coleções da estilista, cuja marca homônima foi criada em 2014, tecidos da terra natal ganham modelagem contemporânea que expõe partes do corpo, para “absorver a fluidez carioca”.

De Guiné-Bissau, Saturnina da Costa é dona da NK Moda Africana e mora em Goiânia. Ela mescla sarja e jeans com capulana, tecido estampado tradicional em países como Moçambique, Senegal e Togo. “Adaptei para atender ao gosto dos brasileiros.”

Trocas culturais e ausência de costumes puros são próprios das diásporas, diz Bruna Pereira, professora de relações internacionais da Universidade de Brasília.

Como Angela, Saturnina se incomoda com o estereótipo de moda africana uniformizante, que não considera misturas de códigos.

As duas desconstroem expectativas sobre o que uma mulher africana deve criar ou vestir. “Se uso roupa monocromática, me perguntam se estou deprimida”, reclama Saturnina.

Angela diz que, quando não conseguem enquadrá-la na ‘‘moda negra’’, ela não tem lugar. “No momento que ocupo espaço e me recuso a fazer o que esperam de mim, isso já é ativismo.”

Num contexto em que a história da população afrodiaspórica é ignorada, Angela e Saturnina confrontam a visão eurocêntrica do saber. De figurantes de uma narrativa capitaneada por um projeto colonialista, as estilistas transformam sua produção em vitrines de uma nova história.

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