Descrição de chapéu

Em 'Chicago', Paulo Szot mostra por que virou uma estrela da Broadway

Crítica à espetacularização da Justiça feita pela trama combina com Brasil de hoje, mas montagem não explora esse vínculo

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Chicago

  • Quando Qui. e sex., às 21h; sáb., às 17h e 21h; dom., às 15h e 19h. Até 29/5.
  • Onde Teatro Santander, av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041
  • Preço R$ 37,50 até R$ 340
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Emanuelle Araújo, Paulo Szot e Carol Costa
  • Direção Tania Nardini

Passando por uma tragédia pessoal, o barítono Paulo Szot subiu ao palco e trouxe ao público de São Paulo, com firmeza profissional, a qualidade que fez dele uma estrela na Broadway e em casas de ópera como o Metropolitan, também de Nova York.

É um ator de referência no teatro musical contemporâneo, inclusive —ou principalmente— para os colegas brasileiros, vivendo o papel hoje histórico do advogado inescrupuloso e cínico de "Chicago", em cartaz no Teatro Santander. É quem explora o teatro da mídia para manipular a Justiça, no musical.

O ator Paulo Szot em foto de divulgação da montagem do musical 'Chicago', em cartaz no Teatro Santander - Pedro Dimitrow/Divulgação

Com atuação despojada, olhar voltado ao público, exalou segurança e sedução como no "South Pacific" que o consagrou há mais de uma década, mas agora para expressar a corrupção elegante, triunfante, representada por seu Billy Flinn.

A canção standard "Razzle, Dazzle", ainda que com alguma perda na versão em português, é interpretada conscientemente por ele como a espetacularização imposta não só ao tribunal do júri, mas a toda a sociedade contemporânea dos Estados Unidos.

Szot não está sozinho nisso. No papel de uma das criminosas tornadas celebridades, Roxie Hart, Carol Costa se estabelece definitivamente. A atriz, que vem dando saltos em sua trajetória no teatro musical paulistano –como se viu, por exemplo, em "Hebe, o Musical"—, se impõe agora como bailarina além da cantora qualificada.

Embora sem a altura e as pernas de Ann Reinking, que marcou o papel, seus quadros de dança com o coro são sensuais e precisos. Fisicamente, remete mais a Renée Zellweger, do filme baseado na montagem histórica de 1996. Mas seu alcance é maior.

Já Emanuelle Araújo não explode como Velma Kelly. Faz com competência os diversos números célebres, a começar por "All That Jazz", mas não se deixa arrebatar nem cantando nem dançando, como o personagem pede —e como Bebe Neuwirth fez, em 1996.

É bonita e longilínea, como demanda a coreografia, recriada pela mesma Ann Reinking, a partir de Bob Fosse. Mas é preciso mais do que cumprir movimentos ou cantar no tom, sessão após sessão.

"Chicago" nasceu em 1975, mas foi a remontagem duas décadas depois que firmou o musical de Fosse, John Kander e Fred Ebb como um clássico contemporâneo. Ressurgiu mais conectado com o tempo, como se este tivesse acertado o passo.

Naquele mesmo ano de 1996, um mês antes, outros dois espetáculos também ajudaram a fazer Nova York, a Broadway e o próprio gênero musical americano renascerem. Eram eles "Bring in 'da Noise, Bring in 'da Funk" e "Rent".

"Chicago", já com seu principal criador morto, falou a uma geração que compreendeu melhor sua desesperança com a América. Sua crítica é implacável e muito contrastante com o nacionalismo atual na sociedade americana, inclusive no teatro musical.

Crítica que é metaforizada na Justiça e combina bem com o Brasil desta última década —embora a produção local, uma franquia daquela produção de 1996, não faça qualquer esforço para explicitar o vínculo.

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