'Rota 66' leva Caco Barcellos às séries com Humberto Carrão na pele do jornalista

Livro escrito pelo repórter sobre um esquadrão da morte em São Paulo ganha uma adaptação audiovisual no Globoplay

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São Paulo

É a clássica frase de Martin Luther King sobre o silêncio dos bons que o jornalista Caco Barcellos usa para definir o processo ainda crescente de violência policial ao redor do Brasil 30 anos depois de denunciar a existência de um esquadrão da morte dentro da Polícia Militar de São Paulo com a edição de "Rota 66".

O livro-reportagem não só lançou luz sobre seu trabalho e rendeu a ele um prêmio Jabuti, mas obrigou a adoção de um exílio voluntário resultante de uma série de ameaças.

Humberto Carrão, ator
Humberto Carrão vive o repórter Caco Barcellos na série 'Rota 66' - Aline Arruda - Vans Bumbeers/Divulgação

"Passamos por governos de direita, de centro, de esquerda e de extrema direita e nada foi alterado. Os esquadrões da morte das ruas são legitimados em todas as escalas do poder", afirma o jornalista, que acompanha com interesse o lançamento "Rota 66 - A Polícia que Mata", que acaba de chegar ao Globoplay.

"Vivemos um momento de tensão, responsabilidade e compromisso com a nossa história", diz Humberto Carrão, que dá vida ao jornalista na série. "O interesse é olhar e discutir nosso passado para ter um futuro melhor. A série vai contribuir para a discussão e vai gerar interesse nas pessoas para tentar entender como é que a gente chegou aqui e o que precisa mudar."

Embora seja baseada em casos reais, a série traz um apanhado de histórias narradas por Barcellos com um toque de ficção, que funciona não só para perfilar as vítimas e os policiais, mas para abrir um espaço para as famílias desses dois polos da violência urbana, e também inserir as experiências do próprio autor durante a apuração.

Ao todo, os capítulos condensam seis histórias que se passam entre 1982 e 1992, mas buscam diálogo com a contemporaneidade e abordam discussões ainda em pauta, como o racismo estrutural e seu reflexo na violência das corporações policiais.

"Ao final do processo, os inúmeros casos narrados foram sintetizados nessas histórias ficcionais que se entrelaçam a outros tantos fios, como a vida pessoal de Caco e a guerra de narrativas no jornalismo, por exemplo", diz Maria Camargo, roteirista que divide os créditos de criadora da série com Teodoro Poppovic. "Apesar de a história narrada no livro se passar entre 1982 e 1992, ela segue dolorosamente atual."

Em "Rota 66 - A Polícia que Mata", o jovem Caco Barcellos, recém-chegado a São Paulo em 1975, fica intrigado com a execução de três garotos que, ao tentar roubar o toca fitas de um carro, dão de cara com uma viatura da Rota e são assassinados, no que os policiais declararam ser um tiroteio iniciado pelo grupo.

O jornalista percebe uma série de inconsistências na história e, ao apurar a fundo, descobre um esquadrão destinado a atirar e matar antes de perguntar dentro da Polícia Militar de São Paulo. Entre 1975 e 1992, Barcellos identificou 4.200 corpos, dos quais pelo menos 2.200 pertenciam a pessoas sem ficha criminal ou passagem pela polícia.

"A minha expectativa é que a exibição da série desperte alguma reflexão sobre esse sistema de segurança, centrado numa guerra que tem levado à morte dos pobres e negros, com a impunidades dos matadores", diz o jornalista, que viu projetos anteriores de adaptação da obra naufragarem sem nem iniciarem as produções.

Antes de o produtor Gustavo Mello decidir dar continuidade ao projeto, ao menos três cineastas haviam manifestado interesse, mas desistiram ao lidar com os riscos de mexer com assuntos que envolvem o que o jornalista chama de "agentes de uma organização temida e poderosa do Estado".

Ainda que trate de casos ficcionais com base naquelas narradas no livro, "Rota 66 - A Polícia que Mata" é, na visão de Maria Camargo, um ato contra a normalização da barbárie.

Teodoro Poppovic vai além. "Esperamos que a nossa dramaturgia consiga acessar a empatia de uma parcela do público que talvez tenha normalizado a violência sistêmica. Não existe pena de morte no Brasil, mas o método descoberto pelo Caco Barcellos 30 anos atrás ainda é empregado até hoje."

O elenco conta, além de Humberto Carrão, com nomes como Naruna Costa, Ailton Graça, Lara Tremouroux, Adriano Garib, Felipe Oládélè, Magali Biff, Ricardo Gelli, Vírgina Rosa, entre outros.

Rota 66 - A Polícia que Mata

  • Quando Estreia 22 de setembro
  • Onde GloboPlay
  • Autor Maria Camargo e Teodoro Poppovic sob a obra de Caco Barcellos
  • Elenco Humberto Carrão, Naruna Costa, Ailton Graça, Virgínia Costa, Ricardo Gelli e outros
  • Produção Brasil, 2022
  • Direção Philippe Barcinski e Diego Martins
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