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Moda

Como Paco Rabanne uniu o medieval com o futurista na moda

Sempre visto como inovador, estilista espanhol ocupou posição entre o artesão e o engenheiro experimental durante a vida

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Carolina Casarin
São Paulo

Francisco Rabaneda Cuervo, ou Paco Rabanne, morto nesta sexta-feira aos 88 anos na Bretanha, esteve ligado ao mundo da alta-costura desde muito cedo.

Sua mãe trabalhava no ateliê de Cristobal Balenciaga, mas em 1939 foi obrigada a fugir para a França com os quatro filhos depois que seu marido foi morto por oficiais franquistas.

Jane Fonda no filme 'Barbarella', de 1968, que contou com figurinos de Paco Rabanne - Divulgação

Entre 1952 e 1964, Paco Rabanne estudou arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, localizada em Paris.

A primeira coleção de Paco Rabanne, lançada em fevereiro de 1966 numa sala alugada no Hotel George V, na capital da França, ao som da música concreta de Pierre Boulez, foi batizada de "Doze Vestidos Inutilizáveis em Materiais Contemporâneos".

A apresentação dessa coleção, apresentada pelo costureiro como um desfile-manifesto, foi considerada inovadora em muitos sentidos.

Além de utilizar materiais inéditos no contexto da alta-costura, como alumínio e plástico, o que o aproximou das artes plásticas, quebrou o paradigma ao apresentar modelos negras que dançavam de pés descalços, diferente da deambulação monocórdica dos desfiles de moda aos quais o público estava acostumado a assistir até aquele momento.

A escolha por manequins negras, aliás, quase provocou a expulsão de Paco Rabanne da Câmara Sindical da costura parisiense.

Ao longo de sua carreira, Paco Rabanne se manteve fiel à pesquisa audaciosa sobre volumes e, principalmente, materiais considerados inadequados às roupas de luxo —metal, plásticos coloridos e transparentes, couro e até um vestido de papel misturado com fios de náilon.

Criou também roupas com imitações de peles que, na verdade, não se limitavam a imitar a natureza, mas pretendiam inventar pelagens de animais imaginários.

No bojo da década de 1960, quando a juventude reclamava para si um estilo diferente daquele usado pelos adultos, a variedade se tornou a principal característica da moda.

Não havia mais limite para a alta-costura, então tudo passou a ser permitido.

No quadro da moda feminina do século 20, o estilo das roupas criadas por Paco Rabanne está ligado, de um lado, às criações artísticas e inovadoras de Elsa Schiaparelli, passando pelo futurismo de Courrèges. De outro, seus looks remetem à estrutura tradicional e rigorosa de Balenciaga.

Paco Rabanne empregou materiais que não eram utilizados no vestuário desde a Idade Média. É o caso da malha metálica, por exemplo.

Ao mesmo tempo, ele recorreu a matérias-primas consideradas radicalmente modernas, como o acetato, leve e flexível o suficiente para ser usado tanto em roupas quanto em joias.

A ligação entre o antigo —medieval— e o moderno está bem expressa no ensaio fotográfico publicado na revista Vogue inglesa em abril de 1966, em que uma modelo usa um vestido feito de pequenas placas de plástico unidas por anéis de metal, diante de um castelo gótico.

Paco Rabanne em 2003 - REUTERS

Esse estilo que misturava a Idade de Ferro e o prateado futurista aparece também no filme "Barbarella", de 1968, dirigido por Roger Vadim, cujo figurino foi assinado por Paco Rabanne. Costureiro sempre tido como inovador, ele ocupou uma posição entre o artesão e o engenheiro experimental.

Coco Chanel, maldosa, não o considerava um costureiro, mas um metalúrgico. Suas roupas "inutilizáveis" não eram especialmente confortáveis, mas foram projetadas para o movimento, com bastante articulação, o que permitia que os vestidos seguissem as curvas do corpo, ou facilitassem as movimentações da região do quadril.

Em 1967, ele fez uma afirmação importante à Marie Claire. "Quem sabe o que serão as roupas? Talvez um aerossol usado para borrifar o corpo, talvez as mulheres se vistam com gases coloridos aderentes ao corpo, ou em halos de luz, mudando de cor com os movimentos do sol ou de acordo com suas emoções." De fato, Paco Rabanne foi um costureiro profético.

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