Descrição de chapéu Obituário Germano Mathias (1934 - 2023)

Morre Germano Mathias, compositor de 'Minha Nega na Janela', aos 88 anos

De acordo com a família, músico morreu de pneumonia adquirida após ser internado para tratar anemia em Franco da Rocha

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São Paulo

Morreu o sambista Germano Mathias nesta quarta-feira (22) aos 88 anos. A informação foi confirmada por sua filha, Eliana. O músico havia sido internado em um hospital no município de Franco da Rocha para tratar uma anemia e contraiu pneumonia, causa de sua morte.

O sambista Germano Mathias - Henrique Manreza/Folhapress

Chamado de "o catedrático do samba", fez fama com canções como "Senhor Delegado" e "Guarde a Sandália Dela". É conhecido pelo estilo sincopado e por usar uma tampa de lata na percussão —técnica que diz ter aprendido com engraxates que frequentavam a praça da Sé no passado, quando a Catedral ainda não tinha sido aberta.

Além das suas próprias canções, Germano também interpretou interpretou hinos como "Malvadeza Durão", de Zé Keti, "A História de um Valente", de Nelson Cavaquinho, e "Joga a Chave", de Adoniran Barbosa.

Germano é considerado um ícone do samba paulistano. Surgiu na música brasileira em outubro de 1955, quando ganhou um concurso de calouros na rádio Tupi. No ano seguinte, a música "Minha Nega na Janela", de sua autoria, estourou nas rádios. Havia deixado de cantar música, de letras polêmicas que hoje causariam alvoroço, nos últimos anos.

Nos anos 60, sofreu a primeira desilusão da carreira. Um empresário alemão o contratou para uma turnê na Europa, mas morreu um mês antes do embarque. Contou em entrevista em 2010 que ainda guardava o passaporte tirado à época. A foto registra seus 26 anos de idade. "Era o Marlon Brando dos pobres."

Na mesma conversa, contou sobre uma segunda desilusão que viveu pouco depois. "O iê-iê-iê [apelido do rock brasileiro] estourou, e sambista não tinha mais valor". Sem dinheiro, Mathias virou oficial de Justiça. Desistiu da profissão quando acompanhou a polícia num mandado de prisão e foi recebido a tiro. "Ser sambista é difícil, mas menos perigoso."

Foi embora para o Rio, onde foi acolhido pela Mangueira, mas logo voltou para São Paulo. No final dos anos 70, voltou à cena com o disco "Antologia do Samba-Choro", gravado com Gilberto Gil.

Em 2015, quando completava seis décadas de carreira, o sambista disse à Serafina, finada revista da Folha de S.Paulo, que cantava "samba de maloqueiro", não pagode. "O pagode é para comer as menininhas, é samba de adolescente".

A frase chamativa faz coro ao resto da entrevista. "Sabe por que eu tô usando muito preto? Porque eu tô de luto, meu pau morreu!", diz logo no começo do vídeo, e cai no riso. "Meu cacete tá morto, rapaz, parece que tá anestesiado!"

Com a língua sempre solta e enérgica, o sambista não ignorava o efeito das palavras que soltava. "Se você botar o que eu faleiaí eu tô fudido, porra. Eu só falei besteira! Vê se corta as coisas que eu falei aí, viu?!"

Mas nos últimos anos tinha abandonado letras ofensivas como a de "Minha Nega na Janela", que dizia "Êta nega tu é feia / Que parece macaquinha / Olhei pra ela e disse / Vai já pra cozinha / Dei um murro nela / E joguei ela dentro da pia".

"Era samba de machão. Não dá para tocar uma coisa dessas hoje em dia", disse Germano. "Meu negócio hoje é um humor sem vulgaridades, leve, com alguns toques de malícia".

Germano Mathias continuava trabalhando aos 67 anos de carreira. Em abril do ano passado, lançou a faixa "Já Foi meu Carnaval", em parceria com Guilherme Lacerda e Geovana.

"Você já foi meu Carnaval, hoje é quarta-feira de cinzas", cantam na música, que passa a soar como um prenúncio fúnebre.

O velório será na Assembleia Legislativa de São Paulo, na av. Pedro Álvares Cabral, 201, das 8h até as 14h de quinta-feira (23).

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