Descrição de chapéu Artes Cênicas

Rita Lee inspirou espetáculo de dança com explosão de amor, humor e sexo

Idealizada por Ana Paula Bouzas e Jussara Setenta, coreografia apropria símbolos da cantora, evitando abordagem literal

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São Paulo

É um desfile de moda sem passarela. O brilho da roupa não avança em direção ao público —se espalha no palco, brilha numa pista de dança. As bailarinas Ana Brandão, Luana Fulô e Patrícia Zarske caíram na noite em "Lá Vem Ela", espetáculo que homenageou a cantora e compositora Rita Lee, morta na segunda-feira, dia 8, aos 75 anos.

Cena de 'Lá Vem Ela', que presta homenagem a Rita Lee
Cena de 'Lá Vem Ela', que presta homenagem a Rita Lee - Fábio Bouzas/Divulgação

Idealizada por Ana Paula Bouzas e Jussara Setenta, a coreografia foi provocada pelo desejo de falar de São Paulo, a neurose em forma de cidade. Às diretoras, Rita pareceu personificar a pesquisa feita até então. Nela, a dupla encontrou uma explosão de humor, ironia e transgressão.

"Percebemos que as apresentações de Rita transcendiam os shows convencionais. Além da literatura, ela tinha interesse nas artes cênicas e a dança contemporânea também tem desejo de dialogar com outras linguagens", diz Bouzas.

Hedonismo e erotismo, dois eixos temáticos da discografia da cantora, se inserem na atmosfera noturna. A balada é o lugar da devassidão, e nela as bailarinas usam os braços abertos e a coluna ereta para comunicar um comportamento decisivo, transgressor.

O sexo é insinuado no contorcionismo de uma das bailarinas, algo que lembra a arte circense, e aparece de modo mais explícito quando as artistas sobrepõem suas mãos às virilhas.

No palco, interagem com caixas de som e exploram a gestualidade da roqueira, manipulando pedestais sem microfones, vários deles dependurados do teto. Desde o início, as artistas fugiram de uma abordagem literal ou biográfica, preferindo explorar os símbolos que a cantora incorporou em sua obra ao longo do tempo. Lá estão o par de óculos de lente vermelha, por exemplo, ou então os tantos cortes de cabelo usados pela artista.

A música também foge de uma enumeração de hits. O trabalho de Jarbas Bittencourt e Ronei Jorge aborda o universo musical da cantora, por vezes citando algumas gravações conhecidas.

Do mesmo modo, os causos colecionados por Rita são sugeridos. Uma das bailarinas se veste de prisioneira, evocando o episódio em que a cantora se vestiu de presidiária no primeiro show depois que saiu da prisão, em 1976.

"Lá Vem Ela" sublinha seu senso de humor, apostando num diálogo com o teatro. A coreografia é pensada em cinco temas —visualidade, feminilidade, ludicidade, criatividade e festividade.

"Tivemos um respeito absoluto pelo universo da Rita", afirma Bouzas. "À cena, escolhemos trazer o corpo que provoca o riso."

Lá Vem Ela

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