Ivete Sangalo transforma o Maracanã num imenso trio elétrico sem medo de errar

Cantora abriu turnê de 30 anos de carreira com megaprodução, enfileirando sucessos que se provam atemporais

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Rio de Janeiro

Dona de um dos cancioneiros mais conhecidos do Brasil, Ivete Sangalo não precisa de muito esforço para abalar ou levantar poeira, para parafrasear alguns de seus hits. Não poderia ser diferente na abertura de sua turnê de 30 anos de carreira, que aconteceu na noite desta quarta-feira, no Rio de Janeiro, antecipando as 30 apresentações que a cantora fará em estádios do país a partir de maio.

Ivete Sangalo se apresenta no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

A potência que sua discografia tem de contagiar o público ficou evidente logo na abertura da apresentação, com uma série de faixas que ela cantava quando ainda estava à frente da banda Eva —"Alô Paixão", "Me Abraça", "Beleza Rara" e "De Ladinho"—, na década de 1990.

Entre seus dançarinos, que trocavam de look a cada bloco da apresentação, sempre com brilho dos pés à cabeça, Ivete também saudou os blocos afro que deram origem ao axé e revolucionaram o Carnaval, cantando faixas como "Faraó Divindade do Egito", lançada em 1987 por Margareth Menezes.

Depois, Ivete se dedicou aos maiores sucessos de sua carreira solo, que começou no início do milênio. O público não poupou as cordas vocais e cantou hits como "Arerê", "Sorte Grande" e "Festa", que ganharam novos arranjos conforme Ivete interagia com sua banda e coordenava as reinterpretações.

Mesmo tendo sido lançada muito depois dessa trinca, há cerca de três anos, "O Mundo Vai" marcou o momento mais contagiantes do show. Ivete cantou a música duas vezes —no início, como a quinta faixa da setlist, e no fim, quando chamou Andreas Kisser, do Sepultura, para encerrar a apresentação entre um solo de guitarra.

Foi a prova de que, mesmo depois de quase duas décadas do ápice do axé na indústria musical brasileira, Ivete está longe de se aposentar —e suas músicas, inclusive as novas, seguem empolgando.

Enquanto cantava "Macetando", gravada em parceria com Ludmilla, que também subiu ao palco do Maracanã, a baiana de repente deixou o microfone de lado. Não demorou para vir a resposta de que a plateia já sabia de cor a letra da canção, lançada na semana passada nas plataformas de streaming.

O público também soltou a voz nas faixas do EP "Chega Mais", lançado no último Carnaval, com destaque para "Cria da Ivete". O single marcou um dos poucos momentos em que Ivete e a plateia fez passinhos mais coordenados, no estilo TikTok, em vez de só pular de um lado para o outro, como de costume.

Com ares das superproduções que chacoalharam o país este ano —como as de Coldplay ou de Taylor Swift—, Ivete desfilou não só hits, mas lançou mão de uma estrutura hiperbólica, fruto de uma parceira com a produtora 30e, que também fez a turnê de reencontro dos Titãs.

Com muito mais pirotecnia do que na primeira —e única— vez em que se apresentou no Maracanã, em 2006, Ivete ostentou três telões enormes , plataformas que a elevaram metros acima do palco em pé e até montada numa moto, pulseiras de LED sincronizadas que criaram desenhos de luzes na arquibancada, canhões de fogo e muito confete.

A cantora, no entanto, não fez de seu show uma peça de teatro ou se prendeu a um roteiro, como não é raro acontecer em produções deste porte. Ela acenou e brincou com seus convidados, muitos deles estrelas da Globo, convidou para cantar as duas filhas gêmeas, Maria e Helena, de cinco anos, e chamou ao palco um dos seguranças do estádio para brindar uma latinha de água e o presentear com R$ 10 mil.

Era evidente que ela tinha ensaiado, e muito. Sem preparo, não seria possível, por exemplo, cantar "Minha Pequena Eva" enquanto cruzava a arena suspensa por cordas. No entanto, era evidente que, como em qualquer bom Carnaval, havia espaço para a emoção, o erro e o improviso, o que fez do Maracanã um enorme trio elétrico com 60 mil pessoas a bordo.

O jornalista viajou a convite da produção

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