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Conheça os livros de fantasia que trocam espadas e sangue por aconchego e ogros fofos

Gênero chamado 'cozy fantasy', com histórias que prezam por reconfortar o leitor, se alastram pelo mercado editorial

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São Paulo

Em meio à batalha, com a espada em riste, uma ogra verde e grandalhona decide que é hora de mudar de ofício. Dias depois, ela chega a uma cidadezinha pacata para pôr em prática o que antes era um sonho estapafúrdio —abrir uma cafeteria. Ninguém ali já sentiu a quentura do café na língua, o que a monstra aposentada considera uma verdadeira ofensa.

Essa é a premissa do livro "Cafés e Lendas", representante do gênero chamado "cozy fantasy", ou fantasia aconchegante. Trazido ao país há quatro meses pela editora Intrínseca, o romance engrossa esse novo puxadinho da fantasia literária que troca guerras sangrentas por conflitos mundanos, sem abrir mão da magia e da presença de "orcs", "metamorfos" e bruxas.

Capa de 'Cafés e Lendas', livro de cozy fantasy, ou fantasia de conforto
Ilustração da capa de 'Cafés e Lendas', livro de 'cozy fantasy', ou fantasia aconchegante - Carson Lowmiller/Divulgação

Travis Baldree, o americano que escreveu "Cafés e Lendas", idealizou o livro durante a pandemia de coronavírus. "Na época, eu não queria ler ou assistir a produções como ‘Game of Thrones’, nas quais meus personagens favoritos eram decapitados. Eu só queria me sentir bem", ele conta.

É essa sensação de calmaria que dá a tônica do gênero. Os leitores aqui querem saber o que acontece num mundo fantasioso quando não há batalhas, onde trabalham as criaturas mágicas e o que feiticeiras fazem quando estão entediadas. Elas têm cães ou gatos? E os órfãos, moram onde?

É desse último tema, aliás, que trata o simpático "A Casa no Mar Cerúleo", do americano TJ Klune, publicado pela Morro Branco. Tido pelos leitores como um dos principais título de fantasia aconchegante, o romance conta a história de um homem ranzinza que precisa monitorar um orfanato de crianças superpoderosas, entre elas uma gnoma e o Anticristo.

Klune, porém, rejeita ser ligado somente a esse gênero. Ele quer ser conhecido não só por acariciar os leitores, mas também por partir seus corações e, para isso, vem investindo nos dramas dos lobisomens da saga de livros "Green Creek".

"Sendo honesto, ‘A Casa no Mar Cerúleo’ calhou de sair no lugar e na hora certa. Isso de livro aconchegante foi uma tendência que ganhou força aqui nos Estados Unidos na pandemia", ele diz. "Eu jamais conseguiria recriar a sensação que as pessoas tiveram ao ler isso naquela época."

No Brasil, o gênero só vingou nos últimos meses. Além de "Cafés e Lendas", a Intrínseca apostou em "O Jogo dos Desejos", sobre uma moça que encontra conforto nos livros. A Record está ainda mais interessada —incluiu três títulos do tipo no catálogo, como o brasileiro "Sete Bruxas e um Gato Temporário".

"O crescimento da ‘cozy fantasy’ tem a ver com o aumento de pessoas ansiosas", diz Rafaella Machado, editora da Galera, selo juvenil da Record. Segundo ela, outro fator decisivo no sucesso do gênero é a estafa que os leitores vinham sentindo com os calhamaços e as sagas intermináveis de fantasia.

"Nós vivemos de esperança", afirma Baldree, de "Cafés e Lendas". "Se um livro torna o seu dia mais fácil, e causa esse efeito de forma concreta, ele tem seu valor."

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