Descrição de chapéu BNDES

Não queremos nada tão restritivo no fiscal para evitar risco de 'crise política violenta', diz deputado do PT

Para Lindbergh Farias, nova regra a ser proposta pela Fazenda não pode comprometer crescimento

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Rio de Janeiro

A nova regra fiscal a ser apresentada pelo Ministério da Fazenda precisa proporcionar um ajuste gradual nas contas públicas para não ameaçar o crescimento econômico e, assim, jogar o Brasil em uma "crise política violenta", disse nesta segunda-feira (20) o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).

Segundo ele, há preocupação de parlamentares da sigla e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de impulsionar o crescimento para afastar o risco político.

A declaração é dada no momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), discute os detalhes finais da proposta de nova regra fiscal. Nesta segunda, a pedido de Lula, o ministro tem se dedicado a apresentar o projeto a lideranças do Congresso.

O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), em evento em Brasília - Pedro Ladeira - 22.out.2018/Folhapress

"O centro, para mim, tem que ser a economia crescer. Se a gente crescer 0,89% [em 2023], como está dizendo o mercado, e 1,5% no próximo ano, vamos ter crise política séria nesse país. O governo vai ter dificuldades", disse Lindbergh após acompanhar seminário sobre desenvolvimento sustentável promovido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

"Nós vamos ter uma crise política violenta no país. Desestabilização, protestos nas ruas, clima de mal-estar, aumento do desemprego", acrescentou o deputado, dizendo que esse ambiente poderia servir de alavanca novamente para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que também compareceu ao evento, disse que ainda não tomou conhecimento dos detalhes da regra e evitou fazer avaliações.

"Eu acho que o principal é ter um mecanismo contracíclico. Quando você tem crises, você ter mais investimento. Mas eu não sei. Tem que esperar para a gente poder avaliar", disse.

Lindbergh disse que o maior crescimento da economia é essencial para afastar o risco político. "Tem duas questões aqui: o problema da política monetária, e a gente não quer nada que seja tão restritivo na questão fiscal, porque se não é a tempestade perfeita", afirmou.

Segundo ele, isso não significa que o PT não vai apoiar a proposta de Haddad, mas ele ressaltou que a bancada quer discutir os termos. "O que não dá para ter é, numa situação de desaceleração grave, um aperto monetário e um aperto fiscal no próximo ano muito forte. A gente tem que mirar médio e longo prazo. Se não, a gente vai derrubar muita economia", afirmou.

Ele disse ainda que o PT não pode repetir o "episódio Levy". Em 2015, após reeleita, a ex-presidente nomeou para o comando do Ministério da Fazenda o economista Joaquim Levy, de viés liberal e com apelido de "mãos de tesoura" (em referência a corte de gastos).

A escolha de Levy se deu num contexto em que Dilma era pressionada pela forte deterioração das finanças públicas, pelo escândalo das pedaladas fiscais e pela contabilidade criativa adotada em seu primeiro mandato para maquiar a situação das contas do país.

Levy permaneceu no cargo por 11 meses, período em que travou e perdeu uma série de embates na tentativa de rever benefícios e desonerações e resgatar a credibilidade fiscal. Sua proposta de ajuste rápido era criticada pelo PT.

"O partido tem uma leitura hoje que faltou ter um senso mais crítico naquele momento. Aquilo assustou, jogou o país numa recessão, derrubou a Dilma. É justamente aquilo que a gente não quer que aconteça", disse Lindbergh.

A avaliação do deputado é que Haddad vai conseguir chegar a um projeto que "aponte mais para o médio e longo prazo". "Tem que ser uma coisa mais gradual", disse.

O deputado também disse achar difícil que o país tenha déficit primário zero já em 2024, como chegaram a cogitar integrantes da equipe econômica.

"Não sei se dá para dizer que é deficit primário zero no outro ano, porque se a economia desacelerar muito, toda lógica mostra que quando a economia desacelera muito, tem que aumentar um pouco o investimento", afirmou.

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