Descrição de chapéu Banco Central Selic juros

Analistas veem Galípolo como nome técnico que terá de provar independência de Lula

Economista que já foi nº 2 de Haddad na Fazenda foi indicado para presidência do Banco Central

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A indicação de Gabriel Galípolo à presidência do BC (Banco Central), confirmada nesta quarta-feira (28) pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), tem sido vista com bons olhos pelo mercado.

Se aprovado na sabatina do Senado Federal, Galípolo assume o cargo de Roberto Campos Neto, à frente da instituição desde 2019 por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cujo mandato termina em 31 de dezembro.

De acordo com analistas ouvidos pela Folha, o atual diretor de Política Monetária da autarquia é um nome classificado como técnico, já esperado por agentes financeiros. O desafio dele, porém, será de angariar a confiança do mercado, que teme ingerências do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na instituição, independente desde 2021.

Gabriel Galípolo em audiência no Senado no ano passado - Gabriela Biló - 04.jul.2023/Folhapress

Galípolo, diretor de Política Monetária do BC desde junho de 2023, foi secretário-executivo da Fazenda e atuou como braço-direito de Haddad até a indicação à autarquia. "Acredito que a ideia já era prepará-lo para substituir Campos Neto", afirma Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

"Ele vem se comportando como um bom nome, um bom diretor, se colocando de maneira muito transparente e técnica. E ele se qualificou para ocupar o cargo."

O nome do economista já era dado como certo às vésperas do anúncio, o que deu um peso maior às suas falas sobre a inflação e a taxa básica de juros do país —a Selic—, movimentando o mercado financeiro nos últimos dias.

Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), ele tem dividido o posto de mensageiro do BC com Roberto Campos Neto, reiterando com frequência que a possibilidade de uma alta nos juros está à mesa, a depender dos dados econômicos.

As falas vão na contramão do que defende Lula, crítico vocal do atual chefe do BC e do patamar dos juros em 10,50% ao ano. "Quando Galípolo mostra determinação na busca pela inflação ao centro da meta e coloca a alta de juros como possibilidade, ele ajuda a diminuir as incertezas em relação à condução da política monetária", diz Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.

Os temores de ingerência política no BC, porém, ainda podem deixar o mercado ressabiado. Rocha pondera que a credibilidade de Galípolo, mesmo que crescente nos últimos meses, "ainda não foi alcançada totalmente".

"É preciso mostrar coerência, comunicação firme e, principalmente, comprometimento com a inflação. O discurso duro, que nos mostra que não há desconforto político por ora, ajuda nas expectativas do mercado e reduz as incertezas da condução da política monetária, mas é um primeiro passo de um longo processo necessário para conhecermos Galípolo como presidente."

Na visão de André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais, a régua para Galípolo não será a mesma de Campos Neto.

"Vão sempre esperar um pouco mais dele, porque ele é o indicado do governo. O que ele deve fazer é repetir o que já tem feito: mostrar para o mercado que ele é diretor do Banco Central, e não um instrumento do governo dentro da autoridade monetária", afirma, acrescentando que ele terá de manter a serenidade e a moderação de tom para reforçar a postura de autonomia.

Em relação a Campos Neto, os especialistas avaliam que não existem grandes divergências entre os dois nas decisões internas do Copom.

"Mas espera-se do Galípolo mais sabedoria política e que ele não cometa os mesmos erros de Campos Neto, que já deixou explícita a opinião política em algumas circunstâncias. Dele, será cobrada a postura de neutralidade", diz Galhardo.

Outro desafio para o será de conduzir o BC —e a perseguição pela meta da inflação— em um momento em que a economia está aquecida, com mercado de trabalho apertado e expectativas inflacionárias desancoradas.

"É uma situação desconfortável, como todos os diretores têm dito. O desafio será de controlar a inflação no horizonte relevante, até 2026, com uma taxa de câmbio depreciada e expansão do gasto público. Isso não é uma tarefa fácil", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.