Empresários contam como adaptaram ao Brasil ideias de negócio do exterior

Antes de importar produtos e serviços, é preciso descobrir se há possíveis investidores no país

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São Paulo

Serviços e produtos que têm boa aceitação em outros países muitas vezes servem de inspiração para empresários brasileiros. Adaptá-los ao mercado nacional, no entanto, nem sempre é fácil.

Um dos pontos importantes antes de importar a ideia é descobrir se há, no país, investidores interessados em apostar no negócio, afirma Junior Borneli, fundador da StartSe, empresa de educação executiva continuada.

“Essa é uma diferença muito grande que temos para o mercado americano. Lá há muito mais dinheiro disponível.”

Além disso, Borneli diz que o empreendedor precisa, por meio de pesquisas, descobrir se o produto teria aceitação no mercado nacional.

Bruno Stuchi, 33, fundador da Aktie Now, na sede da empresa, em São Caetano do Sul 
Bruno Stuchi, 33, fundador da Aktie Now, na sede da empresa, em São Caetano do Sul  - Gabriel Cabral/Folhapress

O empresário pernambucano Renato Villar, 32, dono da Voltz, que comercializa scooters elétricas, sabe bem disso.

Ciente de que outras empresas já haviam falhado tentando trazer ao Brasil esse produto, que em países como França e Espanha vendem mais que modelos a combustão, ele foi a campo descobrir as especificidades do mercado local.

“Descobrimos que 75% dos que usam scooters percorrem até 50 quilômetros por dia, e, num veículo elétrico, o maior limitador é a bateria”, diz.

Após anos de pesquisa, a empresa desenvolveu um modelo com bateria portátil, mais fácil de ser carregada, e começou a comercializá-lo no fim de 2019. Desde então, vendeu 235 unidades e, nos últimos dois meses, está em segundo lugar entre as scooters mais vendidas no Recife.

A ideia para este ano é abrir showrooms em outros estados e vender cerca de 12 mil unidades, o que deve gerar à empresa, de 32 funcionários, um faturamento de aproximadamente R$ 108 milhões.

Bruno Stuchi, 33, se inspirou num modelo de serviço já avançado nos EUA para melhorar o atendimento ao consumidor no Brasil. 

Ele prestava consultoria para uma multinacional de softwares e, numa viagem ao Vale do Silício, viu soluções até então pouco usadas por aqui.

Em 2016, Stuchi fundou a Aktie Now. Entre os serviços oferecidos está a automação no atendimento por meio de robôs que conseguem fazer uma triagem. Humanos só entram em cena quando há problemas complexos. 

“Tem que chegar ao colaborador só o que de fato precisa dele. Se ele fica sobrecarregado, não atende bem”, diz.

O empresário conta que um desafio foi convencer —e ajudar— as empresas brasileiras a integrar seus setores.

“A área de atendimento geralmente fica separada do resto da empresa. O funcionário transfere a ligação do cliente porque não tem acesso a informações. Todo mundo já teve esse tipo de experiência”, diz. 

A Aktie Now tem cerca de 300 clientes e 45 funcionários. Faturou R$ 7 milhões no ano passado e pretende crescer cerca de 35% neste ano.

Matheus Goyas, 29, um dos sócios da Trybe, em São Paulo 
Matheus Goyas, 29, um dos sócios da Trybe, em São Paulo  - Jardiel Carvalho/Folhapress

Além da pesquisa de aceitação do produto, fatores como economia e legislação locais devem ser observados na hora de replicar uma ideia estrangeira no país, de acordo com Wilson Borges, consultor do Sebrae-SP. 

“O empreendedor deve levar em consideração o cenário político-econômico, o hábito dos brasileiros, se há tecnologia disponível para o projeto no país e a legislação, inclusive a ambiental”, afirma ele.

A escola de programação Trybe só cobra pelo curso do aluno que conseguir emprego com salário de ao menos R$ 3.500. Por isso, o ambiente econômico é especialmente importante para a empresa, já que o contrato é firmado no início das aulas, mas o dinheiro só vem no futuro —se houver inflação ou juros altos, o pagamento valerá menos. 

“É um modelo que começou nos EUA e teve sucesso. Lá o juro é baixo. Se os nossos ainda estivessem altos, provavelmente eu teria de corrigir o valor, e isso inviabilizaria o curso para alguns estudantes”, diz Matheus Goyas, 29, sócio.

Para fundar a companhia, Goyas e seus parceiros de negócio foram para mais de 20 países pesquisar modelos de soluções para a educação.

Para estudar na Trybe, é preciso participar de um processo seletivo. No último, houve 5.000 interessados e cem deles foram aprovados. 

A empresa quer terminar 2020 com 600 alunos; para 2021, projeta 3.000. Como a remuneração depende do sucesso dos estudantes, não há previsão de faturamento. A escola tem quatro polos: Belo Horizonte, São Paulo, Itajubá (MG) e Florianópolis. Também oferece ensino a distância.

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