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Mario Monti é a antítese de Silvio Berlusconi
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DO "FINANCIAL TIMES"
Os romanos já estão falando do "impacto benéfico" de Mario Monti sobre a montanha da dívida italiana --antes mesmo de ser garantida sua nomeação como primeiro-ministro.
O spread entre os títulos governamentais italianos e alemães com vencimento para dez anos caiu cerca de 50 pontos-base em relação ao pico de 576 alcançado na quarta-feira, fato atribuído em parte à perspectiva de o economista e ex-comissário europeu assumir o lugar de Silvio Berlusconi no comando de um governo interino.
Na comunidade empresarial de Milão --onde Monti é muito conhecido como reitor da Universidade Bocconi e ex-membro do conselho de algumas das maiores empresas da Itália--, foram manifestadas dúvidas quanto a se o tecnocrata, apesar de ser altamente respeitado por seu intelecto, teria força suficiente para governar.
Mas essa impressão vem se modificando nas últimas semanas, na medida em que Monti vem endurecendo a retórica em seus discursos. Executivos admitem que, para implementar as medidas de austeridade exigidas pela Europa, a Itália precisa de alguém que se posicione acima da disputa política e não tema desagradar aos eleitores.
Líderes empresariais crêem também que Monti será capaz de empreender medidas drásticas adicionais, como impor um imposto sobre a riqueza que poderá levantar até €100 bilhões, porque ele não precisará encarar a ira dos eleitores.
"O que precisamos, concretamente, é de uma suspensão da democracia pelo prazo de 18 a 24 meses, para que possam ser tomadas decisões difíceis", disse um empresário.
Monti é o único candidato que não tem vínculos com o cenário político tóxico da Itália. "É o que precisamos para este momento", diz o presidente de uma das maiores empresas da Itália.
Na quarta-feira, Monti, 68 anos, foi elevado pelo presidente, Giorgio Napolitano, ao nível de senador vitalício, indo juntar-se a alguns poucos escolhidos pelas contribuições feitas ao país.
Afável e didático por natureza, o economista é a antítese de Berlusconi, envolto em gafes e escândalos.
Monti vem ganhando estatura aos olhos do público com uma série de artigos e discursos feitos em tom franco, nos quais colocou a nu as falhas da elite política em fazer frente à dívida e arrancar a economia do marasmo.
Quando Berlusconi falou que os mercados estavam atacando o euro "estranho", Mario Monti observou que o alvo não era a moeda comum, mas a dívida soberana de países perdulários como a Itália.
Seu desafio será convencer as pessoas de que não é um tecnocrata desalmado que vai apenas obedecer ordens ditadas em Bruxelas e Berlim, mas um "italiano cheio de paixão" --nas palavras do jornal "Corriere della Sera"-- mas "sem ambições pessoais: portador de ideias, não de interesses".
Natural de Varese, no norte da Itália, Mario Monti formou-se na Universidade Bocconi e depois estudou em Yale, nos Estados Unidos. Mais tarde, lecionou na Universidade de Turim, tornou-se professor de economia política na Bocconi e foi nomeado para o cargo em Bruxelas por Berlusconi em 194.
Ele emergiu como um dos membros mais poderosos e influentes da Comissão Europeia, tendo servido como chefe de competição da União Europeia, supervisionando a difícil investigação antitruste da Microsoft feita por Bruxelas no início dos anos 2000.
Dois anos atrás ele foi convidado pelo presidente da Comissão, José Manual Barroso, a compilar um influente relatório sobre o mercado único da EU. O relatório pediu mais desregulamentação, para incentivar a competição e o crescimento econômico.
Monti também virou presença regular no circuito dos institutos de estudos de Bruxelas. Em seminários recentes ele vem advogando políticas fiscais que distribuem o sofrimento político entre a esquerda e a direita --como reduzir os benefícios de pensões e também elevar os impostos sobre os ricos.
Tradução de CLARA ALLAIN
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