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23/09/2012 - 07h00

De Porsche, franceses 'fogem' para a Bélgica

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GRACILIANO ROCHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BRUXELAS E PARIS

A Bélgica virou um dos destinos preferenciais de uma leva de refugiados que chegam em carros de luxo, ostentam relógios caros e não são capazes de viver sem o champanhe da terra natal.

Em cada vez maior número, milionários franceses fazem as malas e partem em direção a países que não aplicam taxação sobre a fortuna, como Suíça e Reino Unido.

A diáspora dos ricos teve início nos anos 80, mas o plano do presidente socialista François Hollande de taxar em 75% rendimentos superiores a € 1 milhão por ano acelerou o processo.

"Os impostos e taxas estão cada vez mais altos na França, e aumentou muito a procura de cidadãos muito ricos que querem deixar o país desde a vitória de Hollande", disse o advogado suíço Philippe Kenel, que tem escritórios em Paris, Genebra e Bruxelas.

Kenel é autor de um livro que ensina os passos para milionários buscarem exílio fiscal no exterior.

O assunto elevou a temperatura do debate político na França após a revelação de que Bernard Arnault, o homem mais rico do país, pediu cidadania belga. O dono do conglomerado de luxo Louis Vuitton morará no Uccle, subúrbio elegante de Bruxelas.

Ali, os franceses representam 10% da população (79 mil habitantes), segundo o prefeito Armand De Decker, mas transformaram de tal maneira a paisagem que restaurantes, cafés e livrarias fazem do Uccle uma versão local do Bois de Boulogne, uma das regiões mais exclusivas de Paris.

Os milionários vivem em casas de dois ou três pisos, em alamedas repletas de pinheiros. No bairro, há um liceu francês para que os filhos dos expatriados estudem pelo mesmo currículo da terra natal. Dos 2.700 estudantes de 5 a 18 anos, 70% nasceram do outro lado da fronteira, segundo a direção da escola.

Ironicamente, o comércio de luxo do Uccle está concentrado numa rua chamada Waterloo, que lembra a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte, em 1815.

Grifes como Dior, Gucci e Chanel são onipresentes nas vitrines. Uma loja de perfumes se chama Ici Paris ("Paris é aqui"). O principal supermercado do bairro, com prateleiras repletas de champanhe e de foie gras, emula o Bon Marché, célebre templo do consumo na Rive Gauche parisiense.

"Aqui há um atrativo que nenhum outro país tem para os franceses: se ficarem nostálgicos, estão a apenas uma hora e 20 minutos de trem de Paris", declarou Suzane Salens, dona de uma imobiliária especializada em casas de alto padrão.

TRÂNSITO DE PORSCHES

Os "expatriados fiscais", como são chamados, evitam os jornalistas. A Folha teve negados os seus pedidos de entrevista. Em parte, esse comportamento deriva da controvérsia provocada por Bernard Arnault.

O bilionário francês virou um dos assuntos mais candentes no país, tema de editoriais da imprensa e capa de jornais satíricos.

Sindicatos de esquerda promoveram uma grande manifestação, que reuniu entre 8.000 e 10 mil pessoas em Bruxelas no dia 14 de setembro, segundo a polícia e os organizadores. Pediam "justiça fiscal" e o aumento dos impostos dos ricos, para que o país não virasse o santuário dos "rentistas franceses".

O efeito imediato foi um gigantesco tumulto no normalmente tranquilo trânsito da capital belga.

A reportagem levou 90 minutos para atravessar os oito quilômetros que ligam o Uccle ao centro de Bruxelas, presa em um engarrafamento de Porsches, Jaguares e Land Rovers.

 

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